A minha relação com a fotografia teve início com o uso de máquinas fotográficas analógicas. Limite de 24 ou 36 poses a depender do filme, não saber se eu tinha errado ou acertado o foco e o enquadramento até a revelação, era parte deste processo. Assim como só poder comprar filme ou revelar quando conseguia recursos para isso.
Por volta de 2003 eu tive acesso a primeira câmera digital fotográfica, era emprestada da universidade, pois eu só vim a ter minha primeira câmera fotográfica digital em 2007. Depois que eu comecei a fazer fotos digitais, não quis mais parar, e isso foi possível porque um amigo me emprestava a câmera dele, até eu ter a minha.
Antes de ter uma câmera digital fora do celular, eu tive celulares com câmera, mas a qualidade da câmera dos celulares era baixa, e as câmeras digitais fotográficas tinham opção de zoom, além de ter mais megapixel também.
Foi quase automático parar de revelar as fotografias, até porque não sobrava recursos para isso. Assim só depois de fazer um oficina sobre criação de livros de fotografia em 2015 que eu me dei o direito de criar um fotolivro com fotografias minhas. Estou falando de impressão a partir de site popular de fotografia, e que eu pude fazer porque rolava e rola até hoje promoções e o valor fica mais em conta.
Cheguei inclusive a fazer algumas dezenas, e há algumas dezenas de pessoas que ganharam ou compraram um fotolivro com as minhas fotografias refletidas.
Não sei precisar por quanto tempo eu providenciei a confecção dos fotolivros, talvez um ano, ou menos, até eu me convencer que era melhor parar. Não deixei de sonhar em publicar um livro de fotografias minhas, mas não consegui entender como poderia viabilizar isso sem um edital.
Cheguei a submeter propostas para os raríssimos editais de livros de fotografia que encontrei, o que só me garantiu engavetar quatro propostas de livros de fotografia, que não mantive fé de que devia tocar para frente depois que foram rejeitadas.
A minha relação com a fotografia passou por vários bloqueios nos últimos anos, o principal deles é derivado do medo de sair na rua com a minha câmera DSLR, o que acabou ficando bem alinhado com a transformação que eu passei desde a pandemia de COVID-19, me percebendo e buscando ser uma pessoa mais caseira.
Uma parte da minha relação com a fotografia, principalmente de registro de paisagem deixou de se desenvolver nos últimos cinco anos. Na medida que eu pude eu busquei manter a minha relação com a fotografia refletida, principalmente através do uso de efeitos do tipo caleidoscópio, inicialmente pelo Instagram e depois através do recurso de edição do Photoscape.
Uma parte de mim vê com bons olhos a ruptura que a pandemia provocou na minha relação com a fotografia, principalmente porque me permitiu experimentar a fotografia de outras formas, e também porque eu acabei redescobrindo a minha relação com a imagem e com a fotografia através da collage artesanal.
Mas outra parte de mim ainda precisa acolher a fotografa que eu fui, e que eu ainda sou. Sinto falta de revisitar as minhas fotografias, uma coisa que eu perdi o hábito de fazer e que tenho custado a voltar a praticar. Assim como também seria bom voltar a fazer novas fotografias de registro de paisagens.
Eu declarei a minha paixão por fotografias refletidas publicamente em 2014, quando criei a página do Diário Refletido no Facebook. Àquela fora também uma declaração de amor a mim mesma, e só com o passar do tempo que eu fui compreendendo assim, reconhecendo e celebrando.
Amor próprio não cabia muito em mim por quase toda a minha vida, e começar a reconhecer as minhas fotografias e a mim mesmo como fotógrafa foi revolucionário, mas não foi suficiente para que eu aprendesse a dar valor a mim mesmo e ao que eu produzia independente da validação externa.
Em 2016, eu criei outra página, que refletia a minha paixão pelas minhas fotografias que foi a La Refletida, e através dela eu mendiguei atenção e reconhecimento as minhas fotografias até 2018.
Ironicamente, comecei a vestir as minhas fotografias em 2016, em paralelo eu descreditava de mim mesma cada vez que postava novas fotografias refletidas e pouco recebia curtidas ou comentários no Instagram e no Facebook.
Comecei 2021 separando algumas das poucas fotografias que havia criado em 2020 para uma convocatória de fotógrafas alagoanas, para a qual submeti o ensaio "Negativas" que foi rejeitado. E terminei este mesmo ano criando um livro de fotografias de bolso para outra convocatória, o qual também foi rejeitado.
Cogitei que este livro de bolso eu poderia decidir não engavetar e com a colaboração de Carol Almeida que voluntariamente revisou o texto que escrevi para o livro, o publiquei como e-book em 2022, "La Refletida - Livro de bolso".
A pedidos de minha mãe e minha tia, eu passei os últimos seis anos personalizando calendários para elas. Ano passado eu fui cumprir essa missão com antecedência (o que não foi o caso em alguns anos que eu só criei o calendário personalizado em janeiro) e me perguntei se não seria uma boa fazer alguns exemplares extras para vender.
Acreditei que seria um bom investimento e assim comprei seis calendários personalizados com as collages que criei em 2023 boa parte delas a partir da mediação que me propus a fazer nas edições da roda Afeto Collage (@afetocollage).
Tive medo de me frustrar e não vender os calendários, mas o que vive foi na direção contrária do que temi. Pois não só foram comprados os seis calendários que eu confeccionei, como me senti incentivada a confeccionar mais alguns.
Não diria que consegui fortalecer a minha crença em mim mesma e o meu amor próprio a ponto de não me abalar quando o reconhecimento falta, quando me sinto desmerecida ou temo que as pessoas não se interessem pelas imagens que crio através da collage. Mas sei que aprendi a exercitar mais o amor próprio e a seguir renovando a minha busca por aprender a me amar mais a cada dia, assim como aprendi a me acolher e a buscar seguir me ensinando a me acolher dia sim e no outro também.
Passei o segundo semestre de 2023 sonhando em ver as minhas collages como adesivo, mas não encontrava como viabilizar isso, temia investir numa confecção terceirizada e me frustrar, tentei usar uma impressora emprestada e não consegui. Refleti quando 2024 começou o que eu desejava fazer para enfim viabilizar confeccionar as minhas imagens como adesivos e acabei arrumando coragem de me convencer que o jeito seria investir numa impressora.
É difícil dimensionar a realização que foi e que é poder imprimir as minhas collages, confeccionar elas como adesivos, eu já estou inclusive confeccionando ímãs de geladeira também.
Como eu achei que confeccionar ímãs era mais complexo do que realmente é, ainda cheguei a encomendar em fevereiro 100 ímãs numa empresa de recife, e me frustrei pesadamente. Pois além de não garantir um bom acabamento e preservar a cor das imagens, a empresa se quer chegou a reparar o que eu provei que precisava ser reparado.
Para curar e investir em não depender de terceiros, estou enfim imprimindo as imagens, colando nas mantas magnéticas, recortando e criando os meus ímãs.
Tem sido prazeroso e fico muito grata em poder estar investindo em confeccionar produtos com imagens criadas por mim.
Mas ainda sinto que estou engatinhando na parte das vendas. Ao menos tenho conseguido me comprometer em persistir, mesmo me angustiando e me frustrando em estar gastando muito mais do que conseguindo compensar com as vendas.