Como você lida com a desistência? Você se permite desistir? Você acolhe quando outras pessoas desistem?
Fui trabalhar porque era esse trabalho ou nenhum outro (porque eu me sentia incapaz de buscar e também porque só surgiu um outro convite enquanto eu estava lá).
E foi assim que eu permaneci dois anos na Datalex, gerenciando o site Datajus, trabalhando como assessora de comunicação e gestora do site e suas redes sociais, e sendo remunerada como auxiliar de escritório. Foi uma oportunidade de aprendizado, que eu consegui potencializar, ao buscar fazer naquela época a especialização em Tecnologias Web para Negócios pelo Cesmac.
Não considerava pedir demissão, mesmo que desejasse ir para outro emprego, mesmo quando comecei a ver surgir outra oportunidade de trabalho. Porque estava aprisionada entre a culpa e a gratidão. Equivocadamente eu acreditava que seria ingrata se pedisse demissão, e que estaria prejudicando o projeto também, além de deixar o primo que me deu aquela oportunidade na mão.
Belo foi o dia que o primo me comunicou que iria descontinuar o site, e me perguntou se eu desejava continuar na Datalex fazendo digitalização de publicações do Diário Oficial. Fiquei imensamente grata que ele tomou aquela decisão e que eu pude assim ter coragem de dizer que preferia não permanecer trabalhando na Datalex (lembro de dizer que preferia não continuar como se não me fosse permitido, com vergonha e culpa de querer me desistir).
Já estava contratada temporariamente em outra oportunidade de trabalho, que foi o que me deu coragem e algumas permissão. Conciliei por meses a permanência em ambas, por medo também de desistir de um emprego celetista (CLT) para uma prestação de serviço com data para terminar.
Passar dois anos e meio na Datalex foi persistir e desistir ao mesmo tempo. Persistir num trabalho que eu estranhava, mas me ensinou que eu era mais capaz do que eu reconhecia. E desistir porque eu não dava espaço para o meu desejo de estar em outro lugar fazendo algum outro trabalho em cultura ou enquanto comunicadora.
Parte da minha resistência de desistir do trabalho na Datalex tinha como combustível o medo, medo do desconhecido, de desagradar e de ser julgada.
Desistir ou ver alguém desistir é desconfortável, principalmente se o que esperamos de nós e das outras pessoas é que elas não se permitam desistir. Se a gente não se acolhe quando desiste é mais difícil que estejamos abertos para acolher a desistência de outra pessoa.
Tendemos a resistir a mudança, e a ver as ações como se elas definissem as pessoas. Eu me via como uma pessoa medrosa até dois anos atrás, porque eu era mais comprometida em sentir medo do que em cultivar a minha coragem. Mas principalmente porque eu acreditava que se eu sentia medo era porque eu não era corajosa.
Aprendi que sou medrosa e corajosa, e que uma coisa não anula a outra. E a ver a desistência como uma possibilidade, como uma escolha saudável, como uma ação que pode ser acolhida quando eu sentir que preciso tomá-la. Ainda preciso me trabalhar mais para acolher tanto a minha desistência quando a desistência das outras pessoas.
Isso significa que eu desisti de persistir, não, isso significa que hoje eu posso dar espaço para que persistir seja mais possível, mais saudável, que não seja sempre uma obrigação ou a única opção; e principalmente, que posso me permitir ser quem sou, me dar espaço para me cuidar quando persisto e quando desisto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário