Perguntas feitas por Maykson Douglas
1- Quando começou sua paixão pelo cinema?
A lembrança mais antiga da minha relação com o cinema é de assistir filmes na TV, o que me levou a frequentar na infância e adolescência locadoras de filmes, a mais tarde frequentar cineclubes, ações formativas e mostras de cinema.
2- Quais as dificuldades de fazer Cinema em Alagoas? Quais os espaços e o que se tem de incentivo por parte das entidades governamentais?
Em Alagoas, as dificuldades de fazer Cinema estão conectadas com a não preservação das obras realizadas em película, com a inexistência de incentivo em pesquisa e registro da história do cinema alagoano, ausência de espaços que exibam os filmes produzidos, do escasso investimento em difusão das obras realizadas (com financiamento e independentes) e com a indisponibilidade de espaços de formação na área (técnica, tecnológico, graduação e pós-graduação).
Os hiatos entre as edições dos editais de incentivo realizados pela Prefeitura e pelo Estado, resultam em filmes não realizados, e os recorrentes atrasos nos pagamentos, inferem em prejuízos incomensuráveis aos que tiveram projetos aprovados e ficaram sem poder cumprir o planejamento previsto. A realização sistemática de editais de incentivo ao audiovisual alagoano não é uma realidade, o que imprime retrocessos e interrompe a fluidez do setor.
A produção audiovisual tem sido impulsionada sistematicamente pelos profissionais do segmento e demais interessados/as que buscaram realizar filmes nos últimos três anos em boa parte com recursos independentes. Visto que a edição do edital do estado de 2015 foi cancelada em 2016, reformulado e lançado ainda no mesmo ano, o qual só teve o processo de repasse dos recursos iniciado no final de 2017. E o último edital da Prefeitura de Maceió foi realizado em 2015.
Um espaço de convergência de profissionais e interessados no audiovisual é o Fórum Setorial do Audiovisual Alagoano, responsável pela realização da Mostra Sururu de Cinema Alagoano - ação que desde 2009 apresenta um recorte da produção audiovisual no Estado.
A Mostra Sururu tem sua 9ª edição prevista para outubro de 2018, a realização desta ação é um incentivo essencial para que mais realizadores apresentem publicamente os seus filmes, haja reconhecimento das produções pelos profissionais e interessados no audiovisual, além das trocas possibilitadas através de espaços de convergência como Mostras e Festivais de Cinema.
O Circuito Penedo de Cinema, é uma ação realizada pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL) desde 2011 em Penedo-AL, proporciona a convergência de profissionais e interessados no audiovisual de todo o Brasil para o evento que conta com Mostras competitivas e ações formativas.
O Alagoar é um site dedicado ao audiovisual alagoano, disponibiliza informações sobre as ações formativas, Mostras e Festivais realizados no Estado, assim como realiza a catalogação das produções audiovisuais.
O Sesc Alagoas realiza ações formativas em audiovisual, um destaque das ações desenvolvidas pela instituição é o Ateliê Sesc de Cinema que proporciona anualmente a imersão de um grupo de jovens e adultos na feitura de documentários, através dos módulos bê-a-bá audiovisual, roteiro, fotografia e som, direção, produção, filmagem e montagem. Desde 2009 foram realizados 22 documentários através deste projeto.
3- Em suas participações em mostras/festivais de cinema em outros estados do país, o que você percebe de diferente em termos de investimentos/ações na sétima arte?
Tive a oportunidade de acompanhar o Festival de Cinema de Triunfo em 2016 e a Mostra de Cinema de Tiradentes em 2017 e 2018, acompanhar uma Mostra ou Festival de cinema é uma experiência única, intensa e de muito aprendizado. Cada uma dessas ações reflete a sua maneira as questões essenciais e mais urgentes do cinema brasileiro. O Festival de Cinema de Triunfo é organizado pelo governo de Pernambuco, e a Mostra de Cinema de Tiradentes tem além do recurso estadual conta com o patrocínio de várias instituições privadas e públicas.
Atualmente o Circuito Penedo de Cinema conta com a realização do governo de Alagoas, além da UFAL e do IECPS, o que possibilitou que houvesse um crescimento na estrutura do Circuito, passando a somar mais duas mostras competitivas ao Festival de Cinema Universitário de Alagoas, entre outros investimentos em ações e estrutura dentro da programação das duas últimas edições. A Mostra Sururu de Cinema Alagoano teve sua última edição em 2017 contemplada no edital Mestre Cicinho realizado pela governo de Alagoas, o orçamento de 40 mil implicou em produzir a Mostra com metade do valor orçado para a sua realização.
As diferenças entre as mostras e festivais de outros estados que pude acompanhar foram prioritariamente de orçamento, pois vejo a diversidade de abordagens, ações, curadorias e programações como processo natural de ações como estas que buscam apresentar panoramas da produção brasileira e proporcionar ações de convergência para os profissionais e interessados no setor. Mas a diferença de orçamento, é uma questão que angustia e em muitos casos inviabiliza a continuidade de mostras e festivais em todo o país. A sistematização, diversificação e expansão de Mostras e Festivais é essencial para o desenvolvimento e fortalecimento do cinema brasileiro.
4 - O projeto Ateliê Sesc de Cinema é uma das poucas ações que possibilitam o contato de jovens e adolescentes com produção audiovisual, qual a importância dessa iniciativa?
A importância de iniciativas como o Ateliê Sesc de Cinema ficam impressas nas pessoas que participam, assistem e que ainda estão tomando conhecimento do que é esse projeto. Quando ouvi falar do Ateliê em 2009, fiquei imensamente curiosa, transpirei encantamento desde que vi os primeiros filmes. Tenho podido acompanhar o projeto de perto desde 2012 quando passei a ser responsável pela produção dele como analista em audiovisual do Sesc Alagoas.
Participar do Ateliê é poder dar vazão ao desejo de contar uma história através de imagens em movimento. E esse desejo de contar histórias através do audiovisual tem o potencial de tocar mais e mais pessoas ao ponto que elas compreendem como podem desfrutar dele.
O Ateliê Sesc de Cinema é a única ação formativa realizada sistematicamente desde 2009 em Alagoas com módulos teóricos e práticos, do roteiro até a montagem do filme, com proposta de imersão no audiovisual através de um recorte da cidade de Maceió que é proposto a cada edição, numa construção coletiva.
O ideal seria ter projetos como esse em cada cidade de Alagoas, além de cursos e oficinas livres, formação técnica, tecnológico, graduação e pós-graduação em cinema/audiovisual.
5 - Na sua ótica, quais são os desafios para a nova geração do audiovisual em Alagoas e o que esperar para o futuro?
A estruturação do audiovisual em Alagoas pode ser encarada como um investimento pelos olhares de quem assumir um compromisso com o setor. Investir para que seja disponibilizada uma sala para exibição permanente de cinema brasileiro e alagoano; viabilizar sala de aula e professores para realizar formações livres e técnicas; assim como gerenciar acesso a filmadoras, ilhas de edição, equipamentos de iluminação e captação de áudio; possibilitar que anualmente seja realizado edital de incentivo ao audiovisual com seleção e pagamento dentro do prazo; investir na criação e manutenção de cineclubes, mostras e festivais; estruturar a preservação, pesquisa e registro da memória audiovisual em um centro com profissionais especializados.
São ações que podem ser executadas ainda esse ano e nos demais, mediante articulações e providências, sem necessidade de promessas vazias para reforçar o desenho desse futuro incerto ainda sem previsão de edital de incentivo, sem ações de formação, espaço para exibição das obras alagoanas, com acesso escasso a equipamentos para filmagem e montagem, e sem a estruturação de acervo, pesquisa e preservação da memória do audiovisual alagoano.
O desafio para novas e para todas as gerações é buscar conhecimento, investir na realização e difusão dos filmes, articular os diálogos para construções coletivas que impliquem no desenvolvimento e fortalecimento do setor.
6- - Qual a importância de uma política de investimentos em audiovisual, tendo em vista que o nome de Alagoas acaba viajando pelo país e, para fora dele, contando histórias e propagando a cultura local?
Entre janeiro e abril de 2018 filmes alagoanos foram selecionados para a 21ª Mostra de Cinema de Tiradentes, 3º Cine Paraíso, II Mostra Itinerante Livre de Cinema: "Milc - Por Outras Fortalezas", 11º Curta Taquary - 2018, Festival Mimoso de Cinema, II Festival de Cinema do Paranoá, 2ª Mostra de Cinema Contemporâneo do Nordeste e 6º FestCine - Curta Pinhais. A frequência da inserção de filmes alagoanos nas listas de seleção e programação de Mostras e Festivais em todo o Brasil está visivelmente crescendo. E esse resultado é alcançado por filmes realizados através de editais de incentivo como também por filmes independentes.
A importância de uma política de investimentos em audiovisual em Alagoas tem como base a consolidação de uma estrutura mínima para formação, difusão, exibição, preservação e realização, que somada ao potencial crescente das produções audiovisuais alagoanas pode determinar a maturação e o alcance destas produções. A produção recente comprova que mesmo com a política desestruturada e descontinuada, apresentada nos últimos quatro anos, o investimento dos profissionais e interessados tem garantido uma difusão significativa dos filmes alagoanos em mostras e festivais, o que poderia ser consolidado e melhor desenvolvido em conjunto com investimentos e a execução de uma política audiovisual sistemática.
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