Texto feito a convite da Revista Textão e publicado em sua sexta edição #Textão. http://online.fliphtml5.com/eojs/izfv/
Por Larissa Lisboa (em 15 de abril de 2018).
Sob os olhares atentos de Karina Liliane, Fabbio Cassiano e Marco Fialho.
Alice me foi apresentada na infância, através do livro Alice no País das Maravilhas de autoria de Lewis Carroll. Mas o momento mais marcante dentre todos os meus encontros com essa personagem, foi em 2006 quando fui ao Teatro do Centro Cultural do Sesi assistir Alice?!, da Cia. do Chapéu. Naquele momento foi criada uma conexão entre a Alice de Lewis Carroll, a que me foi apresentada pela Cia do Chapéu e a que passou a reverberar em mim inconscientemente.
Conheci Tacia Albuquerque naquele primeiro dia que fui prestigiar o espetáculo e lembro vivamente dela como Alice, uma referência que mantenho até hoje. O elenco contava também com Lais Lira, Isaac Vale, Mari Carfer, Magnun Angelo e Donda Albuquerque, sob a direção de Thiago Sampaio. Daquele primeiro contato até a última vez que estive na plateia para assistir Alice?!, senti como se estivesse lá pela primeira vez, ao mesmo tempo que me senti em casa e mergulhei prazerosamente em cada reencontro e nova vivência (apresentação). Como espectadora a camêra fotográfica foi o meu decodificador do espetáculo, fotografar me permitia congelar os momentos em que aquela vivência me emocionava e representar o que vi a partir do meu olhar.
Em 2010, tive o desejo de potencializar o encantamento que acompanhar os espetáculos da Cia. do Chapéu me provocavam e decidi realizar um documentário sobre a Cia., o que sintonizou com o planejamento dela que previa realizar uma temporada com Alice?! e Tabariz em maio daquele ano. Cia. do Chapéu (www.alagoar.com.br/cia-do-chapeu) foi como também denominei o documentário, que foi realizado através de entrevistas com os componentes da Cia, filmagem dos espetáculos e cenas improvisadas durante a filmagem. Estava mais uma vez com a câmera, dessa vez a de filmar, como decodificador da minha admiração e vivência daqueles três dias de filmagem com a Cia.
O documentário é a minha declaração de admiração pela Cia., investir na ideia de construí-lo era a minha forma de desvelar o meu desejo de somar com ela, junto ao desejo de representar a experiência encantadora de ser espectadora de seus espetáculos, a energia e vivência de estar interagindo com eles, com cada um dos componentes antes, durante e depois das apresentações.
Após as filmagens me assumi como colaboradora da Cia. do Chapéu. Entre 2011 e 2013, colaborei com a gestão de conteúdo on-line, acompanhei o início do processo de Mal e Tarja Preta, desenvolvi junto com Donda Albuquerque uma videoarte ainda inédita, mas em nenhum momento me dispus a atuar.
A minha relação com a câmera de fotografar e a de filmar, ou até mesmo a câmera fotográfica que filma, foi o que me afastou e me aproximou da Cia. do Chapéu e da atuação. Houve um tempo em que eu só me imaginava atrás da câmera, até que passei a perceber que me fascinava a construção de uma narrativa pessoal e que assim precisaria me colocar em foco.
Estar com a Cia. é um desejo que me impulsionou a querer mais do que assistir aos espetáculos, a querer representar o que conviver com ela me provoca, querer estar com ela e somar nas criações, querer até me desafiar a atuar para poder estar inserida de uma forma que até então não me parecia desejável ou possível.
Em 2016, numa conversa com Magnun Angelo tive conhecimento de que a Cia estava para iniciar uma nova montagem de Alice?! e que estavam precisando de pessoas para o elenco. Foi nessa conversa que pela primeira vez na vida pensei em atuar, pois o desejo de acompanhar a nova montagem de Alice?! nascia em mim com tamanha força que minimizava o receio que eu sentia ao me imaginar diante de uma plateia como algo que eu não era.
Aquela Alice do meu inconsciente pode então começar a aflorar e passar a reverberar nos meus gestos e falas. Ao iniciar esse processo novo, reconheci as minhas limitações e busquei expandir a minha confiança e a crença, mesmo com dificuldades e travamentos. Na minha relação com Alice me vejo atriz, mas não me sinto atriz fora do espetáculo.
Entre março e novembro de 2016, vivi momentos imensamente desafiadores por estar entre atores e atrizes experientes da Cia. do Chapéu (e o ator convidado Bruno Alves). Eles me encantavam e desestabilizavam, me faziam desejar estar em cena, mas em alguns momentos vinha o desejo de fugir/desistir, pois temia por tudo a perder pela minha inexperiência e descrença. Verdadeiramente a minha confiança foi fortalecida graças aos estímulos, reconhecimentos, respeito e companheirismo de Bruno Alves, Donda Albuquerque, Joelle Malta, Magnun Angelo, Lais Lira, André Albuquerque e Thiago Sampaio.
Estrear sendo atriz em Alice?!, em novembro de 2016, foi muito prazeroso, redimensionou as minhas angústias e inseguranças. Foi uma renovação de energia, sintonizada com a redescoberta dos meus desejos, do que eu sou capaz de ser e fazer. O relacionamento que eu tinha com o espetáculo e com Alice, antes de viver a personagem, foi a essência para a minha apropriação dessa nova vivência, pois ainda estava viva na minha memória as cenas daquela primeira montagem, parte das falas e do encantamento. Uma relação que ganhou outra dimensão nesse novo capítulo construído a partir das reflexões sobre a minha identidade, do ver e ser Alice, que são propostas pela direção do espetáculo.
Retornar a estar em cena em Alice?!, passou a ser um desejo, durante a temporada de maio de 2017 (primeira vez que vivi uma temporada), um desejo que me incentivou e incentiva a dialogar com as minhas limitações e temores. Reverbero o prazer de estar em cena, de ver e ser Alice.
Da Alice que sempre estará em mim e no que ela me possibilita hoje acreditar, ser, contar, escrever e persistir. Desejar estar em Alice?! é desejar reencontrar a minha admiração pela interpretação, dar continuidade ao meu aprendizado, a expansão da minha crença no que consigo apresentar, representar e contar. No contar e recontar do espetáculo, da minha vivência nesta jornada, com e sem o intermédio de uma câmera, caminhando rumo a crença e ao aprendizado do que me empodera e do que eu desejo representar.
Por Larissa Lisboa (em 15 de abril de 2018).
Sob os olhares atentos de Karina Liliane, Fabbio Cassiano e Marco Fialho.
Alice me foi apresentada na infância, através do livro Alice no País das Maravilhas de autoria de Lewis Carroll. Mas o momento mais marcante dentre todos os meus encontros com essa personagem, foi em 2006 quando fui ao Teatro do Centro Cultural do Sesi assistir Alice?!, da Cia. do Chapéu. Naquele momento foi criada uma conexão entre a Alice de Lewis Carroll, a que me foi apresentada pela Cia do Chapéu e a que passou a reverberar em mim inconscientemente.
Conheci Tacia Albuquerque naquele primeiro dia que fui prestigiar o espetáculo e lembro vivamente dela como Alice, uma referência que mantenho até hoje. O elenco contava também com Lais Lira, Isaac Vale, Mari Carfer, Magnun Angelo e Donda Albuquerque, sob a direção de Thiago Sampaio. Daquele primeiro contato até a última vez que estive na plateia para assistir Alice?!, senti como se estivesse lá pela primeira vez, ao mesmo tempo que me senti em casa e mergulhei prazerosamente em cada reencontro e nova vivência (apresentação). Como espectadora a camêra fotográfica foi o meu decodificador do espetáculo, fotografar me permitia congelar os momentos em que aquela vivência me emocionava e representar o que vi a partir do meu olhar.
Em 2010, tive o desejo de potencializar o encantamento que acompanhar os espetáculos da Cia. do Chapéu me provocavam e decidi realizar um documentário sobre a Cia., o que sintonizou com o planejamento dela que previa realizar uma temporada com Alice?! e Tabariz em maio daquele ano. Cia. do Chapéu (www.alagoar.com.br/cia-do-chapeu) foi como também denominei o documentário, que foi realizado através de entrevistas com os componentes da Cia, filmagem dos espetáculos e cenas improvisadas durante a filmagem. Estava mais uma vez com a câmera, dessa vez a de filmar, como decodificador da minha admiração e vivência daqueles três dias de filmagem com a Cia.
O documentário é a minha declaração de admiração pela Cia., investir na ideia de construí-lo era a minha forma de desvelar o meu desejo de somar com ela, junto ao desejo de representar a experiência encantadora de ser espectadora de seus espetáculos, a energia e vivência de estar interagindo com eles, com cada um dos componentes antes, durante e depois das apresentações.
Após as filmagens me assumi como colaboradora da Cia. do Chapéu. Entre 2011 e 2013, colaborei com a gestão de conteúdo on-line, acompanhei o início do processo de Mal e Tarja Preta, desenvolvi junto com Donda Albuquerque uma videoarte ainda inédita, mas em nenhum momento me dispus a atuar.
A minha relação com a câmera de fotografar e a de filmar, ou até mesmo a câmera fotográfica que filma, foi o que me afastou e me aproximou da Cia. do Chapéu e da atuação. Houve um tempo em que eu só me imaginava atrás da câmera, até que passei a perceber que me fascinava a construção de uma narrativa pessoal e que assim precisaria me colocar em foco.
Estar com a Cia. é um desejo que me impulsionou a querer mais do que assistir aos espetáculos, a querer representar o que conviver com ela me provoca, querer estar com ela e somar nas criações, querer até me desafiar a atuar para poder estar inserida de uma forma que até então não me parecia desejável ou possível.
Em 2016, numa conversa com Magnun Angelo tive conhecimento de que a Cia estava para iniciar uma nova montagem de Alice?! e que estavam precisando de pessoas para o elenco. Foi nessa conversa que pela primeira vez na vida pensei em atuar, pois o desejo de acompanhar a nova montagem de Alice?! nascia em mim com tamanha força que minimizava o receio que eu sentia ao me imaginar diante de uma plateia como algo que eu não era.
Aquela Alice do meu inconsciente pode então começar a aflorar e passar a reverberar nos meus gestos e falas. Ao iniciar esse processo novo, reconheci as minhas limitações e busquei expandir a minha confiança e a crença, mesmo com dificuldades e travamentos. Na minha relação com Alice me vejo atriz, mas não me sinto atriz fora do espetáculo.
Entre março e novembro de 2016, vivi momentos imensamente desafiadores por estar entre atores e atrizes experientes da Cia. do Chapéu (e o ator convidado Bruno Alves). Eles me encantavam e desestabilizavam, me faziam desejar estar em cena, mas em alguns momentos vinha o desejo de fugir/desistir, pois temia por tudo a perder pela minha inexperiência e descrença. Verdadeiramente a minha confiança foi fortalecida graças aos estímulos, reconhecimentos, respeito e companheirismo de Bruno Alves, Donda Albuquerque, Joelle Malta, Magnun Angelo, Lais Lira, André Albuquerque e Thiago Sampaio.
Estrear sendo atriz em Alice?!, em novembro de 2016, foi muito prazeroso, redimensionou as minhas angústias e inseguranças. Foi uma renovação de energia, sintonizada com a redescoberta dos meus desejos, do que eu sou capaz de ser e fazer. O relacionamento que eu tinha com o espetáculo e com Alice, antes de viver a personagem, foi a essência para a minha apropriação dessa nova vivência, pois ainda estava viva na minha memória as cenas daquela primeira montagem, parte das falas e do encantamento. Uma relação que ganhou outra dimensão nesse novo capítulo construído a partir das reflexões sobre a minha identidade, do ver e ser Alice, que são propostas pela direção do espetáculo.
Retornar a estar em cena em Alice?!, passou a ser um desejo, durante a temporada de maio de 2017 (primeira vez que vivi uma temporada), um desejo que me incentivou e incentiva a dialogar com as minhas limitações e temores. Reverbero o prazer de estar em cena, de ver e ser Alice.
Da Alice que sempre estará em mim e no que ela me possibilita hoje acreditar, ser, contar, escrever e persistir. Desejar estar em Alice?! é desejar reencontrar a minha admiração pela interpretação, dar continuidade ao meu aprendizado, a expansão da minha crença no que consigo apresentar, representar e contar. No contar e recontar do espetáculo, da minha vivência nesta jornada, com e sem o intermédio de uma câmera, caminhando rumo a crença e ao aprendizado do que me empodera e do que eu desejo representar.
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