"Para recuperar sua criatividade, você primeiro precisa encontrá-la. Peço que faça isso através de um processo aparentemente sem propósito que chamo de páginas matinais. Você fará a páginas diariamente durante todas as semanas do programa e, espero, por muito mais tempo depois. (...)
O que são as páginas matinais? Nada mais do que três páginas escritas à mão, com pensamentos em livre associação (...) Elas também podem ser chamadas, de forma mais infame, de drenagem cerebral, pois essa é uma das funções principais do exercício."
Trecho do livro O Caminho do Artista de Julia Cameron
A vontade de escrever me visita com frequência, e eu estava sendo uma ótima colecionadora de motivos para não segui-la. Além de uma excelente cobradora de mim mesma que estava acumulando frustrações por não estar mergulhando na escrita o tanto quanto a vontade me impulsionava.
Retornar a atualizar esse blog foi uma forma de tentar acumular menos frustrações e abraçar algumas visitas da vontade de escrever. Contudo, eu seguia me vendo como alguém incapaz de se comprometer a escrever diariamente, até que comecei a ler o livro O Caminho do Artista de Julia Cameron há alguns dias. Antes mesmo de começar o programa do curso proposto pelo livro, que sugere exercícios diários distintos a cada capítulo/semana, aceitei o aconselhamento de Julia e dei início a escrita de páginas matinais.
A princípio consegui fazer antes do final das manhãs e sem me angustiar com o que escrever para preencher as três páginas. Nos últimos dias tem sido mais desafiador preencher as três páginas, porque estou me sabotando, ou porque não consigo fazer pela manhã e fico me culpando ao só sentar para fazer a tarde. Sinto até constrangimento em relatar que teve um dia que eu só consegui parar para escrever a noite.
A disciplina ou indisciplina está conectada com desgaste, angústias, ansiedades, junto a busca diária por me priorizar mais do que priorizar as outras pessoas.
Hoje foi mais um dos dias difíceis, acordei uma hora antes do que acordava justamente para tentar focar nas páginas matinais (o que foi também uma orientação da Julia), mas me distraí com tudo e qualquer coisa. Apenas sentei para escrever ao final da manhã.
Aprendi com Brené Brown sobre autocompaixão, mais do que consigo dimensionar, e acredito que esse aprendizado tem me ajudado a me abraçar mais, a observar quando eu não consigo fazer qualquer coisa que sei que sou capaz de fazer, como escrever as páginas matinais pela manhã. Abraçar também que mesmo que eu esteja me sabotando, não estou deixando de praticar a escrita.
Aprendi com Brené Brown sobre autocompaixão, mais do que consigo dimensionar, e acredito que esse aprendizado tem me ajudado a me abraçar mais, a observar quando eu não consigo fazer qualquer coisa que sei que sou capaz de fazer, como escrever as páginas matinais pela manhã. Abraçar também que mesmo que eu esteja me sabotando, não estou deixando de praticar a escrita.
Tive alguns ímpetos de narrar para mim mesma com ironia se eu estava fazendo das páginas matinais, páginas vespertinas. Até que consegui compreender que uma forma de me guiar pela autocompaixão seria a de renomear para mim este exercício diário de escrita, uma vez que para mim é doloroso chamar de páginas matinais quando ocorrer de só conseguir fazer elas depois que a manhã se concluir. E assim pensei porque não chamar de páginas diárias. Inclusive eu passo até a ter mais afeto por elas ao chamá-las de diárias, pois eu já tenho um longo relacionamento com diários (de prática e abandono).
Na infância o diário era um lugar apenas para guardar segredos, que se tornou para mim um espaço para listar o nome dos atores e atrizes que eu gostava, e dos filmes com eles que assisti. Apenas no começo da minha vida adulta foi que me permiti transformar as minhas agendas em diários.
Sabia que socialmente fazer um diário era pouco aceito. E eu me permiti desvalorizar essa prática. Ou dei uma disfarçada nela, quando por exemplo me disse que faria um diário das ações que praticava no Sesc para exercitar a minha memória, era também uma forma de trabalhar a ansiedade.
E o abandono veio, devido a não estar conseguindo escrever com frequência na minha agenda/diário. Uma semana sem abrir a agenda ou às vezes mais, e não conseguia desapegar daqueles dias não registrado, me cobrava lembrar e preencher aquelas páginas vazias, ou levava o ressentimento de ter vários espaços na agenda sem registro. Assim optei por parar.
O diário também inspirou a criação da comunidade fotográfica que gerencio, @diariorefletido, e por dois anos eu consegui postar nelas fotos de minha autoria duas vezes por semana, o que me fez entender que eu consegui manter uma disciplina.
Posso dizer que sou muito grata pelos diários que consegui criar, mesmo que tenham sido mantidos com ou sem disciplina, e que eu tenha respeitado o que desejo de abandoná-los quando foi necessário.
Tão valioso quanto abraçar a vontade de vir aqui compartilhar um pouco sobre minhas páginas diárias e meus diários, é partilhar, ler e reler esse trecho aqui escrito por Julia na checagem dos exercícios e da escrita das páginas matinais: "Como se sentiu fazendo as páginas matinais? (...) Responda essa pergunta detalhadamente na sua página de checagem. Este será um exame semanal de seus sentimentos, e não de seu progresso. Não se preocupe se suas páginas são lamentosas ou banais. Às vezes, isso é exatamente do que você precisa."
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