quinta-feira, janeiro 13, 2022

Na busca por entender o meu próprio valor

Sempre existiu uma blogueira em mim, mas deixei de acreditar nela porque não recebia reconhecimento de outras pessoas e deixava que isso abalasse o meu reconhecimento de mim mesma. É muito comum confundir a vulnerabilidade (sua ou de outra pessoa) com fraqueza, em meio ao domínio que a insegurança já teve sobre mim, me fiz acreditar que eu era fraca, incapaz e covarde.

Uma pessoa covarde escolheria aos 17 anos ir fazer terapia? O meu primeiro ciclo de terapia com uma psicóloga durou quatro anos, em todo ele o valor de estar fazendo terapia e lidando com quem eu era e como eu via as outras pessoas continua inegável para o meu amadurecimento. Foi um ciclo que não se concluiu como parte do meu processo de autoconhecimento (ao menos da minha parte não havia intenção de que houvesse uma conclusão) mas por necessidade da minha psicóloga precisou ser concluído. 

Processo de autoconhecimento, o que come e onde vive?

A opção de me autoconhecer me parece ainda menos como opcional hoje, aos 36 anos. Já faz dois anos que eu busquei iniciar o terceiro ciclo de terapia com uma/um psicóloga/psicólogo, e por mais que eu soubesse que além do acompanhamento de uma/um profissional da psicologia era importante fazer outras ações ou terapias, não sabia de fato o quanto poderia aprofundar o meu processo de autoconhecimento ao encontrar o trabalho de uma pesquisadora norte-americana que estuda sentimentos há mais de duas décadas (aquela que você possivelmente já me ouviu mencionar pelo Instagram), Brené Brown.

Pouco me importa se serei reduzida a uma fanática pela pesquisa de Brené Brown, pois tenho vida além da pesquisa dela e busco justamente que a pesquisa dela me ensine sobre a vida, um dia quem sabe aprenderei também sobre a Vida Plena. Além de que dentro do aprendizado que o contato com a pesquisa de Brené tem me causado está entender o meu valor independente da forma como eu tema que outras pessoas possam me ver, ler, julgar.

Ainda me sinto incapaz de traduzir o que é ler os livros de Brown, também por acreditar que foi uma das vivências mais particular e coletiva que já tive. Os li aceitando e compreendendo que voltaria a ler os mesmos, possivelmente várias vezes na vida. Mas vou tentar em meio a minha descrença na minha capacidade apresentar alguns dos efeitos do aprendizado da minha imersão na obra de Brown mesmo que superficialmente.

1. Compreender que o silêncio é o principal combustível da vergonha

O primeiro livro de Brené que li foi A coragem de Ser Imperfeito, fiquei embasbacada com a informação de que a principal ferramenta que poderíamos usar ao sentir vergonha era buscar dialogar sobre a situação que causou este sentimento com alguém que nos disponibilize empatia.

2. Lembrar de desenvolver a minha resiliência à vergonha

Não significa que não sentirei vergonha, mas que é possível reconhecer como a vergonha mexe comigo, prestando atenção nas sensações que ela provoca, para poder me trabalhar não só quebrando o silêncio sobre ela, como também buscando aprender sobre o que é vulnerabilidade, e sobre como construir minha resiliência a partir de empatia, coragem e compaixão.

3. Simpatia não é empatia

Algo que busco lembrar diariamente, não apenas para ficar mais atenta a quem está sendo empático, mas também para buscar ser mais empática e me libertar do mito de que preciso ser simpática para ser aceita.

Estou lendo o sexto livro de Brown, A Coragem para Liderar. Antes dele li Eu achava que isso só acontecia comigo, A Arte da Imperfeição e Mais Forte que Nunca. Perdi a conta de quantas vezes encontrei neles força para encarar as vergonhas que senti, para me libertar de medos, inseguranças e principalmente para hoje poder me reconhecer como alguém mais corajoso do que eu me  julgava ser ou ter capacidade para ser.

Também tomei a iniciativa de já iniciar a releitura de um deles em 2022, especificamente de A Arte da Imperfeição porque ele serviu para mim como um guia dos conceitos necessários para a Vida Plena e para aprofundar as conexões entre os livros e a pesquisa de Brené. Inclusive é o livro que a própria Brown recomenda como primeiro a ser lido entre os seus trabalhos. Tenho transcrito partes do livro que me tocam para um caderno e compartilhado também alguns trechos pelo meu perfil no Instragram @larislisboa.

4. É possível que tenhamos criado narrativas que nos limitam, assim como é sempre importante renovar a nossa compreensão sobre nós e es outres

5. Não preciso provar o que sou para ser o que sou

Tenho tido vontade de compartilhar muitos trechos de A Coragem para Liderar, e isso foi muito comum em todos os livros de Brené, mas para evitar quebrar o foco no conteúdo que tenho compartilhado a partir de A Arte da Imperfeição optei por vir aqui escrever e acabei fazendo esse preambulo todo a partir da vontade de extravasar um pouco sobre o que o trabalho dela me provoca, no momento ele tem me permitido ter fé em uma forma de liderança justa e saudável que não esteja atrelada em concentração de privilégios e poder.

"Um confronto é uma discussão, conversa ou reunião definida pelo compromisso de abraçar a vulnerabilidade, se manter curioso e generoso, persistir no processo de identificação e solução de problemas, dar uma pausa e voltar atrás quando necessário, ser destemido ao assumir nossas responsabilidades e, como ensina a psicóloga Harriet Lerner, ouvir com o mesmo entusiasmo com que desejamos ser ouvidos. Acima de tudo, quando alguém diz 'Vamos confrontar', recebemos a deixa de que devemos comparecer de coração e mentes abertos para servir ao trabalho e uns aos outros, não aos nossos egos." Trecho do livro A coragem para Liderar de Brené Brown

Para alguém como eu que se viu refém do medo de desagradar as outras pessoas em boa parte da vida, confronto sempre esteve como algo indesejado e desagradável. Apenas hoje e meio ao alinhamento das minha vivências com as leituras da pesquisa de Brown que consigo me permitir enxergar os confrontos como possíveis de serem vividos de forma saudável. 

A minha vida como profissional poderia ter sido outra se eu tivesse a possibilidade de abraçar a minha vulnerabilidade. E tenho consciência de que ela está sendo outra por hoje ter espaço para a minha vulnerabilidade. 

Fui estimulada a ser curiosa e generosa porque tive o privilégio de trabalhar com profissionais assim. E sigo renovando o meu compromisso com a curiosidade e generosidade. 

A identificação e solução de problemas, me foi incansavelmente apresentado em ambientes profissionais como ameaça, principalmente se você representa um setor que é visto como uma despesa, quando deveria ser reconhecido pelo investimento que provoca. 

Até podia ser convocada a aparecer em reuniões de coração e mente abertos, mas dificilmente senti que as pessoas nos cargos de chefia estavam nas reuniões assim. 

"Ter a certeza do nosso valor e do valor dos membros da equipe vai revolucionar a empresa e abrir caminhos que antes não existiam - em vez de uma corrida em que dez pessoas competem entre si, começamos a desenvolver uma corrida de revezamento coordenada na qual os membros da equipe passam o bastão uns para os outros, e não competem para fazer todo o percurso sozinhos. Quando todos entendem o próprio valor, não há mais luta, e passamos a nos dedicar aos nossos dons." Trecho do livro A coragem para Liderar de Brené Brown

Antes de começar a aprender sobre o autoconhecimento a partir da pesquisa e das palavras da Brené, teimava em colocar a minha referência de valor próprio nas mãos de qualquer pessoa. Não tenho palavras para agradecer pelo reconhecimento do que eu fazia e o aprendizado para buscar evitar atrelar o que eu sou, ao que as outras pessoas buscam ou não valorizar.

quinta-feira, janeiro 06, 2022

Breve reflexão sobre um dos ciclos da minha jornada "profissional"

No dia 06 de janeiro de 2021, encerrei um ciclo de oito anos e oito meses no qual estive como analista de audiovisual do Sesc Alagoas. 


Como uma pessoa que valoriza a contagem do tempo (talvez até demais) não poderia deixar de reconhecer que passou um ano. Ao mesmo tempo que não me privo de notar que daqui há quatro meses, vai completar uma década que comecei, através da oportunidade e privilégio de me tornar uma funcionária da coordenação de cultura do Sesc, a minha jornada “profissional” na produção cultural em audiovisual.


Coloco profissional entre aspas porque a minha jornada com a produção/direção audiovisual teve início em 2007, e quer ela seja ou não considerada como “profissional”, foi através dela, da pesquisa que me propus a fazer sobre o audiovisual alagoano, e da minha determinação em fazer tudo que foi oficina de audiovisual que pude, que tive como provar na seleção do Sesc que merecia ficar como segunda colocada para a vaga de analista de audiovisual.


Sou imensamente grata por ter aprendido a ser produtora cultural em audiovisual no Sesc Alagoas, como produtora de ações formativas e instrutora; curadora e produtora de exibições e mostras, mesmo carregando tanta insegurança e vergonha boa parte do tempo.


Me responsabilizo pela insegurança e vergonha, mas é tolice querer acreditar que era coisa da minha cabeça. É falta de coragem inclusive ver apenas a minha responsabilidade diante do que o trabalho me provocava. Porque é muito mais fácil acreditar que a minha insegurança e vergonha eram simplesmente geradas pela minha personalidade, do que encarar que elas são alimentadas pelas relações sociais e de trabalho, prioritariamente pelo dever de agradar, pela obrigação de adaptar-se incansavelmente, pela falta de diálogo e naturalização dos silenciamentos.


Dentro da prática de trabalhar com marcadores mais que nunca é preciso criar mensurações, atenção e estruturas para a saúde mental.


Ainda falando em silenciamento, a linguagem do audiovisual no Sesc Alagoas foi silenciada após a minha saída, e isso diz muito, mas não há muitos que queiram de fato ouvir, enxergar, cobrar e por aí vai.


No momento que me vi concluindo a minha atuação junto ao Sesc, compreendi que finalmente tinha chegado a fase da minha vida em que iria poder rever e refletir sobre tanta coisa que não tinha sido possível em meio a correria das demandas, metas e cobranças. Em meio também ao condicionamento que se aprende a perpetuar para evitar o desemprego.


365 dias já não seriam suficientes para processar tantas vivências, menos ainda em meio aos novos e velhos gatilhos dos tempos pandêmicos. 


Minha intuição me diz há muito tempo que eu preciso escrever, e estou buscando me permitir fazer mais o que ela me propõe. E assim, escrever esse texto não é um começo, nem será uma conclusão. 


Um dos muitos aprendizados que levo comigo é o de que o reconhecimento precisa começar por mim, o que me estimula a buscar coragem para revisitar e contar a minha história porque não há quem possa fazer isso por mim.