segunda-feira, outubro 17, 2022

Como não se resumir aos seus erros?

Como não se resumir aos seus erros? Confesso que é mais fácil responder a essa pergunta na teoria, e principalmente se a pessoa não estiver lidando com as consequência de um erro recente (o que não é o meu caso). E reconheço que não há uma única resposta para essa questão, assim como corroboro com outras vozes que já me ensinaram e ensinam que é preciso ter responsabilidade sobre as nossas ações, e isso não se resume a assumir os erros e pedir desculpas.

Sei que quando eu erro, principalmente em público eu posso estar fazendo um desserviço e corroborando com exemplos que eu luto para desconstruir e não desejo seguir. E que ao me desculpar no momento e o quanto for necessário, eu estou fazendo apenas o mínimo. Portanto, procuro também me abrir e me manter aberta a entender como eu posso aprender quando eu erro.

É doloroso assumir em qualquer medida que erramos, mais ainda se faltar autocompaixão e compaixão em geral. Principalmente porque vivemos numa sociedade punitivista, e há mais estímulos para nos blindarmos e não enxergarmos nossos erros, do que para que nos permitamos a considerá-los possíveis de serem praticados por nós, e acolhidos por nós e pelas outras pessoas.

Apesar de me lembrar e de ser lembrada quase cotidianamente que eu erro, eu também consigo me blindar e custar a enxergar que estou errando (que foi o caso). E foi assim que eu tive a atitude de interromper repetidas vezes a apresentação de uma pesquisa num evento recente que participei na minha cidade. Custei a me dar conta que estava errando e incomodando. Fiquei também sem condições de me desculpar no momento, mas procurei ao final parte das pessoas que estavam na apresentação e me desculpei. E seguirei me desculpando. (Caso você tenha estado presente naquele momento, eu também lhe devo desculpas por ter interrompido o fluxo da apresentação da pesquisa.)

Dando sequência ao processo de me responsabilizar pelos meus erros, identifico duas instâncias/etapas a pessoal, que implica em como errar adiciona ao meu processo de autoconhecimento, e a pública que implica no compromisso de aprender a não repetir o erro e que se possível permitir que ele me guie a reparar o que eu provoquei e/ou me impulsione/guie a somar/construir.

Como aprendi que não posso cuidar das outras pessoas se eu não estiver bem. Então eu busco me lembrar que o que me cabe primeiro é cuidar de mim. E o primeiro passo nesse caminho é dar espaço para os meus erros e me dar autocompaixão (principalmente quando se negarem a me dar). Também nesse primeiro passo cabe buscar reconhecer a vergonha que senti ao me dar conta que errei - que continuará sendo alimentada no processo de responsabilização do erro. Vergonha que eu aprendi a desenvolver resiliência usando como ferramenta a minha percepção para identificar quem me dá empatia e me acolhe se eu acerto ou erro, e me conectando para falar sobre a vivência, como eu me senti, encarando e assumindo que foi constrangedor para mim e para as outras pessoas também.

Outra ferramenta preciosa para o meu autocuidado é ler livros, seja os que me impulsionam a me cuidar e investigar os meus sentimentos, ou no caso específico ler o “Pequeno Manual Antirracista” de Djamila Ribeiro e me dispor a me debruçar sobre ele e estudá-lo.

Outra camada nesse processo é silenciar a impostora, o que se torna ainda mais difícil após errar (e ainda mais quando somos julgadas ou ao imaginar o quanto podem estar nos julgando). Diria até que eu ainda preciso aprender a “silenciar” a minha - porque a bichinha fala viu. Na prática de fato o que eu consigo fazer é me lembrar que eu sou digna, que eu sou capaz, que errar é uma parte da minha vivência humana, que os meus erros não me resumem e nem me definem, que eu não mereço ser desmerecida porque errei e nem julgada, resumida ou invisibilizada.

Quando eu escrevo assim, pode até soar que é simples, ou até mesmo parecer que eu sou forte, ou que eu sempre fui assim. Não é simples, eu tenho força, mas isso não apaga o quando eu sou emotiva e sinto dor, e eu não fui sempre assim.

Abro aqui um parêntese para reconhecer que eu trabalhei e trabalho para c****** para fortalecer a minha autoestima, e ainda estou no processo de aprender que a minha autoestima não é a minha prioridade e sim a autocompaixão. Na prática isso implica que não é sobre ser forte ou provar o quanto eu sou forte, é sobre dar espaço para forças e vulnerabilidades, acolher a mim e as outras pessoas.

Parte também do processo de encarar e dialogar com a minha impostora, implica também em não dar força aos julgamentos das outras pessoas, custei a aprender que não é saudável dar espaço a qualquer crítica, e como saber se é uma crítica mais destrutiva do que construtiva, um indicativo é observar se aquilo que está sendo dito é dito com objetivo de construir contigo ou não; se você está sendo reconhecida como uma pessoa aliada ou como uma pessoa qualquer. Observar também se há espaço para diálogo, pela forma como a sua resposta a crítica for recebida, até mesmo se há espaço para a resposta que você quiser oferecer.

Sigo sendo uma pessoa muito crítica, mas ainda preciso aprender muito a diferença entre crítica e feedback, assim como preciso ainda aprender a acolher qualquer diálogo que seja provocado pelas minhas ações, desde que ele não me desmereça, que de fato dê sinais de escuta e acolhimento, não me diminua ou oprima.

Sou uma pessoa capaz de diminuir ou oprimir como qualquer outra, ainda mais porque sou uma mulher branca privilegiada, e busco aprender cotidianamente sobre o que me machuca e machuca as outras pessoas justamente para evitar quando possível ser invasiva e descuidada. E também estar atenta e na escuta para considerar e me frear a qualquer sinal de que eu esteja passando dos limites das outras pessoas.

Contudo, isso não me impediu de ser invasiva, intransigente e descuidada no meu erro público recente. E diante do acontecido eu precisei me lembrar, e também venho aqui para lembrar a quem mais precisar que eu não sou os meus erros. Reforço também para mim mesma que eu não preciso provar isso para mais ninguém, apenas para mim mesma.

E de fato eu não vim aqui provar para ninguém, vim aqui fazer uso de mais uma ferramenta de autoconhecimento que é escrever, que poderia ser só para mim, contudo dentro do caminho que eu já construí e que eu desejo continuar construindo, o compartilhamento é um investimento em mim mesma e além de mim.

Quando você para e considera a facilidade com que você é julgade e resumide, como você se sente? Eu me sinto derrotada, mais do que pelas outras pessoas até, derrotada por mim mesma. Então para chegar na instância pública, que eu posso considerar alcançar mesmo quando não cometer um erro público, muitas vezes chego derrotista, mas chego, quando consigo. Mas também posso chegar lá esperançosa, porque eu não sou só uma coisa.

Perceber que as pessoas persistem, buscam se superar e realizar coisas que não sejam para elas mesmas, me faz ver esperança, em meio as derrotas. Mesmo que no caminho, durante e depois as pessoas reclamem e tenham posturas que podem ser resumidas como “derrotistas”, não é justo resumir quem se dedica e quem busca trabalhar por conta própria (ou não) para fazer ações além de si, a qualquer coisa que resuma as nuances do que é feito e vivido.

O fato é que com ou sem julgamento, ou com ou sem derrota, eu sigo escutando as vozes externas e a minha voz interna que me impulsionam a persistir, por mim mesma, porque eu sei hoje, mais que antes, o que eu sou capaz, e que se eu não falar, fizer, não tem quem fale ou faça por mim, ou como só eu faço e posso fazer.

É natural ter medo após um erro (público ou não) de dar um próximo passo, e errar de novo, pois não há garantias de que aprendemos, muito menos de que não erraremos de novo. Cabe entender o seu tempo, assim como o que funciona para você. Entre as ações e ferramentas que identifico e uso para me fortalecer e me responsabilizar publicamente estão algumas que já mencionei, que menciono a seguir e que eu posso ainda vir a conhecer. Reconhecer o erro repetidamente; escolher lembrar do erro, se não for muito doloroso; observar a si mesma; observar e estar atenta para não interromper ou interferir de forma inconveniente e incomoda; procurar a opinião de pessoas que sejam compassivas e dispostas a dar feedbacks quando estiver insegura sobre alguma atitude, ideia ou proposta; buscar persistir pesquisando e estudando; caso haja ou identifique uma forma ou várias de reparação, se disponibilizar a reparar; refletir sobre como pode colaborar coletivamente, e se propor a colaborar.

segunda-feira, outubro 10, 2022

Você não é os seus erros

Como muitas pessoas fui criada, educada e sou constantemente estimulada a não errar. Se na vida pessoal isso me pesava, no trabalho que realizei entre 2012 e 2020 no Sesc Alagoas, isso me aterrorizava o tempo todo. Vivi 36 anos comprometida com o medo, a insegurança e a síndrome da impostora, sem perceber o quanto estava fechada para diferentes estímulos que tentassem me dizer que essa não era a melhor e nem a única opção. E sujeita aos diálogos que me propunham romper com a minha visão "pessimista", mas efetivamente incapaz de elaborar e contextualizar que não era o "pessimismo" que me limitava. 

Para ilustrar o nível do meu compromisso em me autocondenar e me autojulgar, certa vez coloquei em um cartaz o número do telefone da minha casa no lugar do telefone da unidade que trabalhava, ao me tocar disso um mês depois de distribuir o cartaz me senti incompetente, e carreguei vergonha por conta disso por um bom tempo, como tantas outras vergonhas das quais me tornei colecionadora.

Independente do tamanho do erro, como na rotina de trabalho eles estavam sempre sendo combatidos e silenciados, parecia só me caber me dizer que eu não era merecedora de ser vista pelos acertos, e eu me dizia que o meu valor era medido a partir do quanto eu era uma pessoa capaz de não errar ou de esconder muito bem os erros. Como também quanto eu era uma pessoa capaz de calar e de caber, o que eu pouco me achava capaz, e nem o queria fazer, mas me obrigava a ser capaz.

Era visível para as pessoas que eu tinha dificuldade de receber elogios, e que eu me autocondenava com frequência (o que ainda estou desaprendendo), mas a questão era muito mais profunda, eu me via como uma pessoa indigna de atuar como analista de audiovisual do Sesc Alagoas. 

Na terapia que fiz entre 2013 e 2017, criei um espaço seguro para as minhas inseguranças, meus medos, e para fortalecer e desenvolver a minha inteligência emocional, para lidar com a síndrome da impostora, com os sentimentos que as pressões vindas da instituição me causavam e como eles reforçavam os meus gatilhos e a minha autocrítica. Tinha assim um espaço para extravasar os meus sentimentos sem qualquer preocupação se eles estariam equivocados ou se caberiam. No qual recebi acolhimento e fui estimulada a acolher os meus erros,  e processar a minha limitação em me libertar das frustrações que colecionava comigo, com outras as pessoas e com o trabalho. Contudo o que conseguia trabalhar na terapia não dava conta de tudo que eu precisava fortalecer para me descomprometer com o medo, a insegurança e a síndrome da impostora.

A primeira oportunidade para me descomprometer com o medo veio em meio a pandemia em 2020, quando compreendi que estar como funcionária do Sesc Alagoas estava comprometendo ainda mais a minha saúde mental, o que também teve espaço seguro em meio ao meu retorno a terapia. 

Enfim, para me autocuidar, eu me permiti ouvir o medo por um outro viés, pois passei a temer adoecer pela obrigação de seguir com o trabalho que realizava até então. Foi quando escolhi iniciar o processo de romper o meu compromisso com os medos que tinham me feito normalizar tanta coisa que eu me submeti para caber naquele trabalho e na vida até ali.

Fui alertada, incansáveis vezes, a ter cuidado para não prejudicar a minha saúde por ser alguém que reclamava e falava sobre o que sentia - que era visto como uma atitude pessimista e derrotista para muitas pessoas que assim me reduziam-, no entanto, por mais que esses alertas tenham vindo com um ar de cuidado, hoje eu sei que isso também me estimulava a me moldar e a me silenciar, e que tem mais ligação com a necessidade de controlar o comportamento da outra pessoa do que é de fato um cuidado. 

Faz pouco mais de um ano que a minha percepção/análise sobre mim e sobre a minha relação com as pessoas e os trabalhos que tive e tenho, foi acolhida, empoderada, e ressignificada pelo meu encontro com o trabalho da pesquisadora norte americana Brené Brown, que identificou em sua pesquisa que o silêncio fortalece as vergonhas, e que uma ferramentas que contribuem para desenvolver a resiliência à vergonha é falar sobre ela com alguém que tenha conquistado a sua confiança.

Aprendi e me comprometi a voltar as obras de Brené - além de ir atrás de outras pessoas pesquisadoras-, na busca por seguir exercitando o meu comprometimento com o meu autocuidado, que implica em dar espaço ao que eu sinto, me responsabilizar pelo que sinto e faço, exercitar a autocompaixão e ser mais compassiva, acolher os meus medos, renovar sempre que possível meu compromisso com a coragem, não me anestesiar e nem deixar a impostora me aprisionar, entre outras coisas.

Pude me abrir para os meu sentimentos mais do que nunca, além de expandir também o meu compromisso com a curiosidade sobre o autoconhecimento, autocompaixão, empatia, e me senti capaz de investigar de forma mais ampla caminhos mais comprometidos com a minha saúde mental. 

Entendi não só que podia errar, e que isso não deveria me definir, como também que não deveria deixar que as outras pessoas me definissem pelos meus erros. E ainda me trabalho para me descomprometer com o perfeccionismo, algo que eu sempre busquei me distanciar, mas que ainda se faz presente pelo temor que encaro ao me propor a fazer, estar ou atuar nas pesquisas e trabalhos que desenvolvo, ou apenas ser autêntica.

Antes de acreditar que eu era capaz de me descomprometer com a prática de julgar as outras pessoas e me autojulgar, eu me comprometi com a empatia, que implicava em buscar me conectar com as pessoas, com escuta ativa, evitando julgamento, algo muito distante do que eu era obrigada a fazer ou conviver para caber no padrão da simpatia. Ao priorizar a empatia, ia exercitando frear os julgamentos.

Brené bem alertou que me comprometer com os resultados da pesquisa dela dava trabalho, incomodava as outras pessoas e dava vontade de desistir, ao mesmo tempo que possibilitava reconhecer que estamos amando e vivendo de todo coração e desejando persistir. Nas palavras dela:

"Optar por amar e viver de todo coração é um desafio. Você vai confundir, irritar e aterrorizar muita gente, inclusive a si mesmo(a). Em um minuto vai rezar para que a transformação pare e, no minuto seguinte, vai rezar para que nunca termine. Você também vai se perguntar como é possível sentir tanta coragem e tanto medo ao mesmo tempo. Pelo menos é assim que me sinto na maior parte do tempo… corajosa, apavorada e muito, muito viva." Trecho do livro "A Arte da Imperfeição" de Brené Brown.

Sei que é um processo diário, e que ainda preciso aprender a não me autojulgar, algo que fica perceptível quando estou falando com outras pessoas e recorro a apontar meus erros e meus limites incansavelmente. Como alento me apoio noutro trecho do livro A Arte da Imperfeição que precisei reler e transcrever para conseguir assimilar, e graças ao qual carrego na minha mente a imagem de uma clareira que tenho sido capaz de criar para me acolher.

 “Quietude não é nos concentrarmos no nada; trata-se de criarmos uma clareira. É abrirmos um espaço afetivamente desobstruído e nos permitirmos sentir, pensar, sonhar e questionar.
(...)
Se fizermos uma pausa por tempo suficiente para criar uma clareira emocional serena, as verdades de nossa vida invariavelmente nos alcançarão. Nós nos convencemos de que, se nos mantivermos ocupados e continuarmos em movimento, a realidade não nos atingirá. Assim, a verdade que aparece para nós é como às vezes nos sentimos cansados, amedrontados, confusos e sobrecarregados. Naturalmente, a ironia disso é que o que nos deixa esgotados é justamente a tentativa de ignorarmos a sensação de esgotamento. É esse o caráter autoperpetuador da ansiedade. Ela se alimenta de si mesma.”

sábado, outubro 08, 2022

Eu, as minhas artistas e a vergonha

Pode ser que nunca tenham me dito: "hidrocor (ou caneta colorida) é coisa de criança", mas também pode ser que tenham. Carreguei essa impressão/afirmação comigo até meus 36 anos quando dela me libertei para (re)encontrar a minha artista, uma das quais eu mais neguei, a ilustradora. 

Negar a minha artista foi o que mais fui ensinada e me auto ensinei, por medo, vergonha, frustração e síndrome da impostora. Quis ser instrumentista, dançar, cantar. Mas onde primeiro me senti capaz foi na ilustração como muitas crianças, mas me convenci ao me comparar com outras crianças que ilustravam com mais desenvoltura e detalhes de que jamais seria ilustradora, a ponto de esquecer que ela habitava em mim. 

Na adolescência me senti capaz de criar poesias, poemas, contos, letras de música, mas também acabei me convencendo de que não era boa o suficiente para ser escritora. Ao ingressar na faculdade e ter contato com câmeras digitais quis acreditar que podia ser fotógrafa, poderia facilmente ter me convencido que também fotógrafa não podia ser, mas como eu não conseguia deixar de fotografar (entre a paixão e o vício), tive pela primeira vez que criar coragem para reconhecer uma de minhas artistas e me proclamar fotógrafa - mesmo me encolhendo ao fazê-lo e temendo constantemente ser desmascarada. A fotógrafa também empoderou a diretora audiovisual, que morria de medo de se reconhecer como qualquer uma desses cargos.

Não era viável ser artista, ao ousar cogitar ser uma das minhas artistas logo me perguntariam como eu iria me sustentar, e diante do insuportável constrangimento de não poder pagar as contas com imagens fixas ou em movimento, a avassaladora vergonha silenciava as minhas artistas/artes, e eu escondia até de mim mesma que era artista, e reduzia as minhas criações a esboços. 

Até que eu me permiti criar uma comunidade fotográfica no Facebook (Diário Refletido, 2014), e me provei sem querer que era capaz de persistir na minha relação com a arte. Dessa persistência eu colhi, alegrias e frustrações. A alegria de poder me declarar apaixonada por fotografar reflexos, de construir um acervo com uma década de fotografias, de construir inúmeras propostas de fotolivros, ensaios e uma única de exposição. De me permitir ser fotógrafa independente de não cumprir as exigências para excelência segundo o mercado ou os padrões profissionais. 

Já entre as frustrações colhidas, eu me senti incansavelmente ignorada, e esperei demais por reconhecimentos externos (mais do que seria saudável inclusive). Perdi muito tempo com dificuldade de digerir algumas negativas que recebi, principalmente a da única vez que submeti uma proposta de exposição. Aos poucos fui buscando acreditar que eu era capaz de responder as negativas de forma mais construtiva, compreendendo que me cabia visibilizar o que estava sendo invisibilizado pelas pessoas que não me escolhiam, aprovavam ou convidavam.

Não deixou de ser doloroso procurar oportunidades e não obtê-las, mas aprendi que para processar essas dores o quanto é precioso dar espaço a tristeza e ao luto que aflora quando as minhas expectativas não são atendidas; também a me (re)ensinar sempre que necessário que o meu valor não pode ser medido pelo reconhecimento ou pela ausência de reconhecimento externo. O meu valor só pode ser dimensionado e reconhecido por mim mesma.

Um aprendizado que também me empoderou como artista e como instrutora de ações formativas, e me guiou para construir a oficina e o Lab Curadoria de si, pelo desejo de aprender e de compartilhar aprendizado sobre processos artísticos, caminhos do autoconhecimento, da investigação dos nosso sentimentos (segundo a pesquisadora Brené Brown), e também da resiliência à vergonha.

Quanto ao hidrocor, estou mais que nunca colecionadora de hidrocores e canetas coloridas e tenho me permitido usar e abusar deles para desenhar sempre que me dá vontade. Crio para mim e também crio estampas para personalizar artigos que são confeccionados pela Estampa Pop ou pelo Colab55.

terça-feira, setembro 27, 2022

sábado, setembro 10, 2022

Mais autocompaixão

Me rodeio de estímulo para que eu me ame mais, há alguns anos, no entanto, esse caminho não estava bem traçado, nem bem reconhecido. Sim, falamos sobre amor próprio e autoestima, mas pouco nos apronfudamos sobre o que acontece quando ambos estão desequilibrados, seja para mais ou para menos. 

Alguns podem afirmar: "Como assim? Já vivo cansade de ouvir as pessoas falando sobre si mesmas e vangloriando suas autoestimas.", o que não destoa do que estou afirmando, não é volume de conteúdo sobre um assunto que comprova o aprofundamento com que nos voltamos para este.

Aprofundamento implica em ter acesso a conteúdos que nos permitam assimilar o que estudos e pesquisas reuniram sobre amor próprio e autoestima. Assim como implica que estejamos comprometidos com a conexão, coragem, vulnerabilidade e empatia, cientes do que isso significa, não apenas com base no conceito dos dicionários ou sociais, mas nos conceitos alcançados pelas ciências humanas.

Nos conectamos profundamente enquanto escondemos a nossa vulnerabilidade? Acessamos nossa coragem sem acessar nossa vulnerabilidade? Como funciona a conexão sem a empatia? E o que muda quando nos conectamos com empatia e coragem? 

Fui ensinada a me ver como uma pessoa covarde e frágil, uma vez que não era tão corajosa como as pessoas que naturalizavam muitas situações que me amedrontavam (entre elas os confrontos e conflitos), e porque não era muito hábil em esconder as minhas emoções (em especial o riso e o choro). Somava também que eu me guiava pela lógica de que se eu agia covardemente então eu não podia ser corajosa, e que se eu não escondia a minha vulnerabilidade então eu era vulnerável, e isso era ruim e condenável.

Também somava que o meu amor próprio e minha autoestima eram dependentes das outras pessoas, o que eu só consegui reconhecer e confrontar quando mergulhei nas pesquisas que Brené Brown difunde em seus livros. Se eu buscava permissão, então foi isso que eu consegui através da leitura dos livros de Brown, permissão de ser/estar covarde e corajosa, e de ser/estar vulnerável, sem isso implicar em ser/estar frágil ou condenada.

Carregava pesos, que me faziam me amar menos e acreditar que a minha estima era naturalmente baixa, e por isso só me cabia ser uma pessoa com baixa estima, já que eu não era merecedora de sucesso segundo os impiedosos padrões sociais.

Parte do que me faz retornar e escrever sobre autorreconhecimento é para desaguar o que aprendi e pela busca de seguir aprendendo. Todo dia recebo estímulos para focar em mim e para não focar em mim, e preciso escolher em que medida vou focar em mim e não vou. A pandemia me possibilitou focar mais em mim, estudar sobre sentimentos e aprender a investigar mais o que sinto, foi um aprendizado que escolhi aprofundar a ponto de levar como compromisso.

Você sabe o que acontece quando as pessoas se comprometem com o autorreconhecimento, autocuidado e com a autocompaixão?

É o que eu tenho buscado descobrir. E pode bater a crise de impostor ou síndrome de impostor, inclusive aqui enquanto escrevo: "poxa, será que vão achar que eu estou estimulando às pessoas a serem autocentradas e egoístas?". E aí eu me lembro que é justamente porque eu não consigo me descomprometer com a forma como as outras pessoas podem receber, sentir ou perceber as minhas escolhas, que eu não estou autocentrada, nem sendo egoísta, eu sigo buscando me amar para poder desaguar mais amor no mundo.  

Para ser compassiva com as outras pessoas, preciso primeiro ser mais autocompassiva comigo mesma. E digo isso não só para as pessoas que lerem, mas para mim mesma, preciso lembrar disso frequentemente.

sexta-feira, setembro 02, 2022

Inscrições abertas para a Curadoria de Si versão Lab

Na versão Lab, a Curadoria de Si, será composta por seis encontros on-line, ministrados pela pesquisadora alagoana Larissa Lisboa, com objetivo de dialogar sobre processos de cuidadoria e curadoria junto a exercícios de curadoria individuais e coletivos.

Lab Curadoria de si, é uma ação formativa livre, com duração de 15 horas, que visa acolher pessoas que buscam estímulo para persistir apresentando suas obras a editais, eventos e outros, e que desejam exercitar construções de curadorias.

O primeiro encontro do Lab será composto por reflexões sobre autoconhecimento, processo criativo e curatorial, do segundo ao sexto encontro o foco será em processos: focados em fotografia, em audiovisual, em composição de portfólio, na construção de curadoria individual e coletiva.

Serão ofertadas 15 vagas mediante inscrição e pagamento de um dos valores conscientes propostos como taxa da oficina até 20/09. Também serão oferecidas cinco bolsas gratuitas, além das vagas pagas, destinadas prioritariamente a dar acesso gratuito a mulheres não brancas, pessoas não binárias, pessoas trans ou travestis, para as quais as inscrições serão encerradas em 16/09.

Dias: 20 e 27/09, 04, 11, 18 e 25/10 das 19:00 às 21:30 (aulas on-line).
Vagas: 15 + 5 bolsas gratuitas
Prazo de inscrição: valor consciente até 20/09 e bolsas gratuitas até 16/09
Valores conscientes: R$ 240,00 (social), R$ 360,00 (colaborativo)
Pix: larislisboa@gmail.com

Sobre Larissa Lisboa

Artista visual, idealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do podcast Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. É diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, como instrutora de oficinas em audiovisual e parecerista de editais. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 a 2020).





terça-feira, julho 05, 2022

Nova turma da Oficina on-line "Curadoria de si" com Larissa Lisboa

A oficina on-line Curadoria de Si, ministrada pela pesquisadora alagoana Larissa Lisboa, está com inscrições abertas (pelo formulário) mediante colaboração consciente até 20/07 para realização de sua segunda turma, que será realizada nos dias 20 e 27/07 das 19:00 às 21:30


Curadoria de si, é uma ação formativa livre, que surgiu do desejo de proporcionar   acolhimento para as pessoas que buscam estímulo para persistir apresentando suas obras a editais, eventos e outros. Propõe reflexões a partir da questão “Qual a curadoria e cuidadoria faço de mim?”, apresentando processos para estimular e inspirar processos, incentivar o reconhecimento de possibilidades e distribuir referências e aprendizados.


Nesta segunda edição/turma a oficina on-line será composta por dois encontros (totalizando 5 horas), o primeiro com foco nas reflexões sobre autoconhecimento, processo criativo e curatorial, e o segundo com foco em composição de portfólio a partir das obras criadas por Larissa Lisboa (esboços de fotolivros, séries fotográficas e filmes).


Serão ofertadas 20 vagas mediante pagamento de um dos valores conscientes propostos como taxa da oficina. Também serão oferecidas duas bolsas gratuitas, além das vinte vagas, destinadas a dar acesso gratuito a pessoas trans ou travestis, para as quais as inscrições serão encerradas em 18/07. 


Dias: 20 e 27/07 das 19:00 às 21:30 (aulas on-line). 

Vagas: 20 + 2 bolsas gratuitas para pessoas trans e/ou travestis

Prazo de inscrição: valor consciente até 20/07 - bolsas gratuitas até 18/07 - formulário

Valores conscientes: R$ 60,00 (social) e R$ 90,00 (colaborativo)

Pix: larislisboa@gmail.com


Sobre Larissa Lisboa


Artista visual, idealizadora e gestora do Alagoar, compõe a equipe do podcast Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. É diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, como instrutora de oficinas em audiovisual e parecerista de editais. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 a 2020).



terça-feira, junho 21, 2022

Refletida - Livro de Bolso (autoria: Larissa Lisboa)

A escrita foi meu primeiro espaço de encontro com meu eu artístico. Me quis poeta, mas logo aprendi que o que eu fazia não era poesia. Nesse descompasso entre o que eu queria e o que eu podia fazer, tive meu primeiro bloqueio artístico, e desacreditei que eu tinha direito de criar a poesia como eu bem entendesse.
O meu então segundo espaço de encontro com meu eu artístico foi a fotografia. E eu me quis poeta das imagens, poeta do encontro das palavras com as imagens e autora de livros de fotografia. O querer seguiu sendo bombardeado por todos os lados por mim e por todas as pregações do que deve ou não ter reconhecimento e valor artístico, mas fui pavimentando caminhos para encarar e superar bloqueios e não desacreditar por inteiro de que eu podia criar poesia com as imagens.

A pilha de fotolivros submetidos a convocatórias e negados pode não compor mais que uma dezena de títulos, mas dimensiona a capacidade que ficou escondida e perigando seguir desacreditada por falta de oportunidade. 

Várias vezes defini oportunidade, como uma ação que estaria atrelada a ter uma criação minha escolhida por terceiros, por alguma iniciativa oferecesse financiamento e/ou reconhecimento. Mas também me permiti em outro momentos defini oportunidade como uma ação minha de buscar criar o que eu não encontrava no mundo.

E foi em mais um gesto de dar conta de me dar o que me seguia sendo negado que eu decidi autopublicar um fotolivro, "Refletida - Livro de Bolso" (https://issuu.com/larefletida/docs/refletida_-_livro_de_bolso_isuu). Essa ideia me veio como consolo, pois eu estava mais uma vez criando um fotolivro para uma convocatória e não queria que ele ficasse empilhado junto aos demais fotolivros que esbocei e engavetei.

E apesar de ter a noção que poderia ser simples autopublicar, a minha insegurança somou para que não fosse, empaquei está autopublicação por algum tempo enquanto lutava comigo mesma para me permitir dar esse passo, que eu sabia que era um investimento em mim mesma também.

Reuni em "Refletida - Livro de Bolso" ilustrações que fiz durante 2021 em meio a pandemia de covid-19 e fotografias que fiz antes da pandemia, mas que editei em meio a construção deste fotolivro. Utilizei para construir a versão que apresento de quase todas a imagens o aplicativo mirror do Instagram - na opção que simula um caleidoscópio, pois caleidoscopiar foi o que me estimulou a seguir fotografando. Caleidoscopiar foi também o que me entusiasmou a revelar as minhas ilustrações através do efeito caleidoscopico.

A parte mais prazerosa foi definir quantas e quais imagens estariam em "Refletida", optei por compor dez duplas, utilizando 20 páginas do limite de 30 que a convocatória propôs. E a parte mais desafiadora seguiu sendo escrever sobre o processo e mais ainda sobre as imagens escolhidas (o que eu ainda fujo de fazer diretamente).

Para falar brevemente sobre como resolvi o bloqueio que me surgiu por não conseguir escolher qual seria a capa deste fotolivro. Testei imaginar se poderia ser alguma imagem que eu já tivesse criado em 2021 ou algo que eu desejasse imaginar, mas não funcionou. Depois de meses de indefinição, me lembrei deste experimento que comecei há fazer mais recente de acumular traços e percebi que eu finalmente sabia qual a capa que eu queria criar.


Tive a colaboração de Carol Almeida Ribeiro para revisão do texto, a quem sou imensamente grata.

"Refletida - Livro de Bolso" pode ser visualizado pelo ISSUU onde está em formato página dupla, e também pode ser baixado ou visualizado pelo drive em formato página única.


segunda-feira, maio 23, 2022

Páginas (Matinais) Diárias

 "Para recuperar sua criatividade, você primeiro precisa encontrá-la. Peço que faça isso através de um processo aparentemente sem propósito que chamo de páginas matinais. Você fará a páginas diariamente durante todas as semanas do programa e, espero, por muito mais tempo depois. (...)

O que são as páginas matinais? Nada mais do que três páginas escritas à mão, com pensamentos em livre associação (...) Elas também podem ser chamadas, de forma mais infame, de drenagem cerebral, pois essa é uma das funções principais do exercício."

Trecho do livro O Caminho do Artista de Julia Cameron

A vontade de escrever me visita com frequência, e eu estava sendo uma ótima colecionadora de motivos para não segui-la. Além de uma excelente cobradora de mim mesma que estava acumulando frustrações por não estar mergulhando na escrita o tanto quanto a vontade me impulsionava.

Retornar a atualizar esse blog foi uma forma de tentar acumular menos frustrações e abraçar algumas visitas da vontade de escrever. Contudo, eu seguia me vendo como alguém incapaz de se comprometer a escrever diariamente, até que comecei a ler o livro O Caminho do Artista de Julia Cameron há alguns dias. Antes mesmo de começar o programa do curso proposto pelo livro, que sugere exercícios diários distintos a cada capítulo/semana, aceitei o aconselhamento de Julia e dei início a escrita de páginas matinais. 

A princípio consegui fazer antes do final das manhãs e sem me angustiar com o que escrever para preencher as três páginas. Nos últimos dias tem sido mais desafiador preencher as três páginas, porque estou me sabotando, ou porque não consigo fazer pela manhã e fico me culpando ao só sentar para fazer a tarde. Sinto até constrangimento em relatar que teve um dia que eu só consegui parar para escrever a noite.

A disciplina ou indisciplina está conectada com desgaste, angústias, ansiedades, junto a busca diária por me priorizar mais do que priorizar as outras pessoas.

Hoje foi mais um dos dias difíceis, acordei uma hora antes do que acordava justamente para tentar focar nas páginas matinais (o que foi também uma orientação da Julia), mas me distraí com tudo e qualquer coisa. Apenas sentei para escrever ao final da manhã.

Aprendi com Brené Brown sobre autocompaixão, mais do que consigo dimensionar, e acredito que esse aprendizado tem me ajudado a me abraçar mais, a observar quando eu não consigo fazer qualquer coisa que sei que sou capaz de fazer, como escrever as páginas matinais pela manhã. Abraçar também que mesmo que eu esteja me sabotando, não estou deixando de praticar a escrita.

Tive alguns ímpetos de narrar para mim mesma com ironia se eu estava fazendo das páginas matinais, páginas vespertinas. Até que consegui compreender que uma forma de me guiar pela autocompaixão seria a de renomear para mim este exercício diário de escrita, uma vez que para mim é doloroso chamar de páginas matinais quando ocorrer de só conseguir fazer elas depois que a manhã se concluir. E assim pensei porque não chamar de páginas diárias. Inclusive eu passo até a ter mais afeto por elas ao chamá-las de diárias, pois eu já tenho um longo relacionamento com diários (de prática e abandono). 

Na infância o diário era um lugar apenas para guardar segredos, que se tornou para mim um espaço para listar o nome dos atores e atrizes que eu gostava, e dos filmes com eles que assisti. Apenas no começo da minha vida adulta foi que me permiti transformar as minhas agendas em diários. 

Sabia que socialmente fazer um diário era pouco aceito. E eu me permiti desvalorizar essa prática. Ou dei uma disfarçada nela, quando por exemplo me disse que faria um diário das ações que praticava no Sesc para exercitar a minha memória, era também uma forma de trabalhar a ansiedade.

E o abandono veio, devido a não estar conseguindo escrever com frequência na minha agenda/diário. Uma semana sem abrir a agenda ou às vezes mais, e não conseguia desapegar daqueles dias não registrado,  me cobrava lembrar e preencher aquelas páginas vazias, ou levava o ressentimento de ter vários espaços na agenda sem registro. Assim optei por parar.

O diário também inspirou a criação da comunidade fotográfica que gerencio, @diariorefletido, e por dois anos eu consegui postar nelas fotos de minha autoria duas vezes por semana, o que me fez entender que eu consegui manter uma disciplina.

Posso dizer que sou muito grata pelos diários que consegui criar, mesmo que tenham sido mantidos com ou sem disciplina, e que eu tenha respeitado o que desejo de abandoná-los quando foi necessário.

Tão valioso quanto abraçar a vontade de vir aqui compartilhar um pouco sobre minhas páginas diárias e meus diários, é partilhar, ler e reler esse trecho aqui escrito por Julia na checagem dos exercícios e da escrita das páginas matinais: "Como se sentiu fazendo as páginas matinais? (...) Responda essa pergunta detalhadamente na sua página de checagem. Este será um exame semanal de seus sentimentos, e não de seu progresso. Não se preocupe se suas páginas são lamentosas ou banais. Às vezes, isso é exatamente do que você precisa."




  

quinta-feira, maio 05, 2022

Oficina on-line "Curadoria de si" com Larissa Lisboa

A oficina on-line Curadoria de Si, ministrada pela pesquisadora, parecerista e produtora cultural alagoana Larissa Lisboa, surge do desejo de compartilhar processos e vivências acumulados por ela ao longo de sua jornada amadora e profissional junto à fotografia e ao audiovisual, e de oferecer acolhimento para as pessoas que buscam estímulo para persistir apresentando suas obras a editais, eventos e outros.

A ação formativa propõe reflexões a partir da questão “Qual a curadoria e cuidadoria faço de mim?”, tem como objetivo apresentar processos para estimular e inspirar processos, incentivar o reconhecimento de possibilidades e distribuir referências e aprendizados. Curadoria de si será composta por três encontros on-line (totalizando 8 horas), o primeiro com foco nas reflexões sobre autoconhecimento, processo criativo e curatorial, segundo e terceiro com foco em processos de obras criadas por Larissa Lisboa (esboços de fotolivros, séries fotográficas e filmes).

Serão ofertadas 20 vagas mediante pagamento de um dos valores conscientes propostos como taxa da oficina. Serão oferecidas duas bolsas gratuitas, além das vinte vagas, destinadas a dar acesso gratuito a pessoas trans e/ou travestis.

Os participantes da oficina podem incentivar que sejam ofertadas uma ou duas bolsas extras: cada oito participantes que contribuírem com o valor colaborativo (R$ 120,00) e/ou a cada dez participantes que optarem por contribuir com o valor básico (R$ 90,00), será oferecida uma bolsa extra para dar acesso gratuito a pessoas trans e/ou travestis.

Dias: 21 e 28/05 das 9:00 às 11:30, e 04/06 das 9:00 às 12:00 (aulas on-line).
Valores conscientes: R$ 60,00 (social), R$ 90,00 (básico), R$ 120,00 (colaborativo)
Vagas: 20 + 2 ou 4 bolsas gratuitas para pessoas trans e/ou travestis
Link para formulário de inscrição: https://forms.gle/hj8baGV9c3zndQBu5 
Pix: larislisboa@gmail.com

Prazo de inscrição: valor consciente até 20/05 bolsas gratuitas até 19/05




Sobre Larissa Lisboa (@larislisboa | @larefletida)

Possui graduação em Jornalismo e especialização em Tecnologias Web para negócios. É coidealizadora e gestora do Alagoar (@alagoar), compõe a equipe do Fuxico de Cinema e do Festival Alagoanes. Contemplada no Prêmio Vera Arruda com o Webinário: Cultura e Cinema. É diretora e montadora de filmes, entre eles: Cia do Chapéu, Outro Mar e Meu Lugar. Tem experiência em produção de ações formativas, curadoria, e em ministrar oficinas em audiovisual. Atua como parecerista de editais de incentivo à cultura. Atuou como analista em audiovisual do Sesc Alagoas (2012 a 2020).

quinta-feira, março 31, 2022

Aniversário do Alagoar, como celebrar?

Ver o Alagoar caminhar para alcançar um ano de existência foi um momento emocionante, o qual nos propomos a celebrar com o lançamento da identidade visual desenvolvida pela Núcleo Zero no Rex Jazz Bar em Maceió-AL, junto a exibição de filmes e videoclipe, e discotecagem do Coletivo Popfuzz e de Luk Lisboa (fotos por Jul Sousa, veja aqui).

2016 - Entrevista com as coidealizadoras do Alagoar, Amanda Duarte e Larissa Lisboa por Rafhael Barbosa: Alagoar se consolida como ponto de convergência do audiovisual alagoano

Pensar e desejar fazer celebrações a cada ano parecia uma opção, mas ao mesmo tempo quando o aniversário do Alagoar voltava a se aproximar, a viabilidade se comprovava mais desafiadora do que eu antevia. Sonhei em voltar a exibir filmes, mas não voltei a fazer isso pelo Alagoar antes da pandemia de Covid-19.

Em 2020, a pandemia me ensinou a propor diálogos pelo Alagoar virtualmente, e porque não começar a fazer live para comemorar o aniversário do projeto, e seguir fazendo mais algumas, parte delas está disponível no IG do @alagoar

2020 - Alagoar comemora cinco anos e faz história por Larissa Lisboa na Mídia Caeté 

Graças ao edital Prêmio Elinaldo Barros da Lei Aldir Blanc, foi possível sonhar a voltar a fazer exibições de filmes pelo Alagoar, somado ao desejo de celebrar o centenário do audiovisual alagoano com um festival de filmes realizados por pessoas alagoanas ou residentes no estado.

Através do Festival Alagoanes foram exibidos 94 filmes, realizados 24 debates e seis oficinas, entre fevereiro e maio de 2021. O Alagoar completou o seu sexto ciclo em meio a programação do Alagoanes, e além desta vivência intensa como presente, também contou com o lançamento do podcast Fuxico de Cinema no dia 30 de julho de 2021 como comemoração de seus seis anos e seis meses.

2021 - Luz, câmera e vamos Alagoar por Maria Viviane de Melo Silva  

Em 2022, a comemoração voltou a ser simbólica como foi na maioria dos sete anos do Alagoar. Rolou desejo de propor alguma ação, assim como cobrança interna e pessoal, somado a possibilidade de aceitar o que foi e é possível fazer e viver.

E uma das possibilidade é a de estar aqui rememorando e compartilhando. Em especial para mim que vivo e penso o Alagoar diariamente, inúmeras são as oportunidades e formas de celebrar a existência e persistência deste projeto, que já fez e faz muito por mim, e que me ensinou e ensina a fazer mais por mim também.  

Como tradição acredito que vale muito seguir lembrando e agradecendo a parceria de Amanda Duarte, que é coidealizadora do Alagoar, a presença dela foi disparadora do amadurecimento do que era um blog "abandonado", em uma iniciativa que aflora com o tempo e tem inúmeros motivos para seguir somando.

Agradecimentos a todas as presenças e ausências.  

sábado, março 19, 2022

Desapegando de "Negativas"

Em 19 de novembro de 2020, estava eu mais uma vez me lamentando para mim mesma sobre não ter recebido do fotógrafo contratado as minhas fotografias de 15 anos. Um lamento que eu sabia que precisava ressignificar já há alguns anos, e que tinha sido reacendido quando eu reencontrei o tal fotógrafo num evento em 2015.

Minha festa de quinze anos foi feita de forma privilegiada, num restaurante, com vestido caríssimo - que minha tia me deu  e que eu usei apenas naquele dia, com filmagem e fotografia, as quais se tornaram ficção por jamais terem sido entregues a minha mãe que foi quem contratou o serviço.

Ainda no ano da festa, anos 2000, ele levou um positivo das fotografias (revelação em miniatura das fotos) para que escolhêssemos quais deveriam ser reveladas. Não lembro quantas vezes minha mãe ligou cobrando ele, mas por alguns anos ela manteve uma frequência nas cobranças e ele prometia entregar mas não cumpria.

O meu reencontro com o tal fotógrafo que "perdeu" a filmagem e os negativos da minha festa de 15 anos se deu, exatamente 15 anos após, foi uma surpresa e senti uma imensa vergonha em ainda precisar cobrá-lo, senti também, equivocadamente inclusive, como se eu ou minha mãe tivéssemos culpa. Não tinha porque ter vergonha nem culpa, mas eu levei um tempo para processar isso.

Entre 2015 e 2017 segui reencontrando o tal fotógrafo anualmente no mesmo evento, e ele foi capaz de me dizer que havia localizado um dos negativos, o que me deu falsas esperanças.

Cansada, e munida da inspiração de ter visto um documentário no qual a diretora havia reavisto após décadas os negativos do filme que ela havia gravado na adolescência, que haviam sido privados a ela pelo produtor do filme. Mandei uma mensagem desaforada para o tal fotógrafo, expressando o meu sofrimento pela primeira vez e emanando o desejo de transformar esta frustração em coisa boa (secretamente desejava que fosse inspiração para um filme ou coisa assim).

print do meu whatsapp

Havia esquecimento, não passava o tempo todo pensando na filmagem e nas imagens que não tinha recebido dos meus 15 anos. Mas havia gatilhos que me faziam lembrar, e havia a consciência de que o que me restava era não esquecer porque essa era uma forma de não apagar mais ainda aquela memória já esmaecida, assim como também fazia parte do meu processo de aprendizado e da minha busca por ressignificar a frustração.

Ressignificando negativas

Desejava acreditar que poderia fazer um filme sobre aquela frustração, mas não tinha muita fé que conseguiria fazer isso sem reaver qualquer fotografia ou material da minha festa de 15 anos porque estava presa num desejo de representação objetiva, numa necessidade de resgate.

Nas minhas férias em 2020, no meio da pandemia de Covid-19, ensaiei filmar a mim mesma, e também uma conversa com minha mãe sobre a minha festa de 15 anos, e empaquei. Contudo, naquele  novembro, além do lamento, também fui visitada pela compreensão de que qualquer negativo de filme fotográfico 35mm poderia representar os negativos das fotografias da minha festa de 15 anos.

Pode parecer algo óbvio e tolo, sim, negativos se relacionam com negativos, no entanto, para mim foi extraordinário. Já havia fotografado uma película de 35mm, quando ganhei uma de presente há muitos anos atrás, mas jamais havia fotografado negativos.

Apesar de ter me entusiasmado ainda procrastinei um pouco, e foi no impulso de romper com a procrastinação que no dia 31 de dezembro de 2020 fiz inúmeras fotografias contínuas que poderiam ter sido apenas um ensaio ou experimento, mas como eu sabia que corria o risco de procrastinar mais, preferi fazer e manter a construção de um filme de animação de stop motion a partir do que consegui produzir de improviso naquele momento.

Estava muito comprometida com a procrastinação, e acredito que ainda tendo a fazer isso na hora de construir os meus filmes. Acredito que após protelar mais um pouco, montei o primeiro e único corte de "Negativo" em março de 2021. 

Acredito que eu já havia terminado a montagem do filme quando cogitei que podia reunir aquelas mesmas fotografias que usei para animá-lo como um ensaio fotográfico que denominei "Negativas", composto por 12 fotografias, algo que me foi provocado ao encontrar uma convocatória para publicação de um ensaio fotográfico num fotolivro coletivo.

Acesse o ensaio "Negativas" aqui

Você sabe desapegar de negativas?

Eu sabia que eu sabia, mas que eu também não sabia, rs 

Meu ensaio "Nagativas" não foi selecionado, e foi doloroso para mim lidar com isso. Embora fosse capaz de entender que aquela negativa não deveria diminuir o valor do meu trabalho, hoje eu sei que é preciso mais do que entender.

A dor que eu senti veio da vergonha que eu embarquei por não encontrar o reconhecimento que eu procurei. E é natural sentir vergonha, e pode ser tranquilo sentir ela e processá-la. Mas além de ter processado apenas superficialmente aquela vergonha que eu senti, eu ainda estava muito presa a minha impostora e também refém da minha insegurança, por ter o mau hábito de ficar me comparando com as outras pessoas.

O que eu aprendi com o trabalho da Brené Brown (que talvez você já tenha me visto falar sobre aqui em outras postagens) foi que a principal ferramenta na busca por desenvolver a resiliência à vergonha é identificar alguém que me dê empatia e falar sobre a vergonha que eu senti. (Na medida que eu pude, pratiquei isso naquela época.)  

Aprendi, entre tantas outras coisas com o trabalho de Brown, a fortalecer o meu autoconhecimento, e a me libertar da necessidade de ser reconhecida, a combater a minha impostora, a ressignificar a prática da comparação como ferramenta de sobrevivência, e não como medida do que sou ou do valor que eu devo me dar, e a desconstruir narrativas pessoais que fortaleciam a minha insegurança.

Foi inspirada no que estava aprendendo com as leituras dos livros de Brown que em dezembro de 2021, escrevi sobre a vergonha que senti ao ver que o meu filme "Negativo" não havia sido selecionado na 12ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano (Da escolha de não silenciar a vergonha). Fato que mais uma vez me impactou porque eu ainda estava medindo o valor das minhas criações a partir do reconhecimento externo.

No entanto, ao contrário do que fiz com "Negativas" que eu deixei guardado e esquecido, tenho buscado seguir escrevendo "Negativo" em mostras e festivais quando sinto vontade, por mais que ainda venha uma impostora me dizer que meu filme seguirá sendo invisibilizado.

E apesar da minha impostora me atrapalhar ainda quando eu encontro coragem de me colocar à mercê do reconhecimento externo, tenho me sentido mais disposta a reconhecer o meu valor, como também de falar, escrever e compartilhar o que sinto e crio, o que me fez vir escrever este texto e compartilhar o ensaio "Negativas" no Facebook e Instagram da La Refletida.

Receber negativas e não deixar elas me desanimarem, nem que me façam acreditar que o meu trabalho merece ser invisibilizado segue sendo o desafio. Em particular, como "Negativas" e "Negativo" são respostas minhas inspiradas numa vivência que me frustrou, preciso me lembrar de não somatizar as frustrações também.

Estou aprendendo a me lembrar que o principal reconhecimento é o meu, e assim conseguir ter coragem para lidar com os gatilhos que venham a sugerir que o meu trabalho é menor ou de que está inacabado, visto que não há como evitar que as pessoas vejam o que eu faço da forma delas, mas que ao mesmo tempo eu preciso discernir e não valorizar o que me machuca e desestimula. 

quinta-feira, março 10, 2022

Eu e eu mesma

 Difícil dimensionar o quanto eu já questionei e diminui a pessoa que sou.

Um dos melhores investimentos que fiz na vida foi ter curiosidade de saber como funcionava a terapia (em Gestalt) ainda na minha adolescência, ao 17 anos.

Estar em terapia por quatro anos, naquele primeiro momento, me incentivou a ter coragem de lidar com as angústias, de ver a vida por perspectivas diferentes da minha, me ajudou a lidar com profundas mudanças. Não via, nem vejo a minha relação com a terapia como um processo a ser concluído, principalmente porque o meu principal objetivo era e é estar em terapia.

A psicóloga que me proporcionou aquele primeiro ciclo terapêutico encerrou seu atendimento clínico, o que determinou a duração daquele momento.  

Não me desesperei ao me ver sem acompanhamento psicológico entre os meus 22 e 27 anos, desejava mergulhar em um novo processo de terapia e compreendi que o faria quando fosse possível.

E assim me vi novamente em terapia por cinco anos consecutivos, num segundo momento, era o meu lugar de respiro, meu incentivo para persistir buscando aquilo que me fazia bem, a possibilidade de reconhecer a mim mesma, de me lembrar sempre que possível da força que habitava em mim.

Em 2017, pela primeira vez, quem optou por dar um tempo na terapia fui eu, um tempo que sem querer durou quase três anos.

Em 2020, retornei a terapia antes da pandemia. E priorizar a terapia mais que nunca foi um aprendizado que veio com a pandemia, já são dois anos fazendo terapia on-line.

A comunicação é uma das prioridades na minha vida, a comunicação é ferramenta da terapia na minha vida, sou imensamente grata pelo acolhimento que recebi e recebo ao buscar desabafar, desabar, desaguar na terapia.

Sou uma pessoa que vive para pensar e pensa demais para viver. E nesse pensar demais, era muito natural me sabotar, me cobrar, não me dar nem espaço para cogitar me perdoar. Não sabia o quanto eu precisava me perdoar, me amar.

Sabia que trabalhava muitas questões dentro e fora da terapia, sentia que ao chegar nos trinta estava abraçando mais a maturidade, mas não fazia ideia que poderia me libertar de tanta coisa e ver eu mesma com mais acolhimento, até encontrar o trabalho de Brené Brown.

Ter reativado este espaço aqui, me permitir mais que nunca valorizar o que eu sinto, penso e tenho vontade de compartilhar. Ao invés de seguir presa no medo de ser julgada, de não ser reconhecida.

Os livros de Brené mexeram comigo, me devolveram um parte de mim que eu ajudei a enterrar, me provaram outras partes de mim que eu nem acreditava que existiam.

Ainda tenho dificuldades de definir quais os valores que me guiam, mas entre eles o que eu mais tenho buscado praticar é a empatia, e isso me possibilitou inclusive aprender a abrir mão de me agarrar nos meus julgamentos.

Entre tantas coisas que o encontro com os livros de Brené me deram e que eu faço questão de levar comigo está a curiosidade, a compreensão de que um dos melhores investimentos que tenho para mim e para a vida é de ser e estar curiosa sobre o que sinto.  

quinta-feira, fevereiro 17, 2022

Quem fui na fila da tutoria canina

 Já me vi na fila da tutoria canina em três momentos na minha vida. No primeiro, ainda na adolescência, pedi um cachorro de presente. Não sabia cuidar de mim direito imagina dele, fora que a convivência com ele ainda foi recheada pelo medo que eu tinha de cachorro. Precisei assumir que não estava dando certo, e assim, o doguinho que na nossa casa foi batizado por mim como Ikki foi então doado para outros tutores.

A segunda vez, eu tinha 21 anos. Meu irmão, Lucas tinha mais proximidade com pets do que eu, assim foi adotado o Polo, batizado como Polanski Linklater Tarantino (por mim, claro), convivemos mais ou menos seis meses com Polo. Infelizmente ele foi atropelado na porta de casa no réveillon 2006/2007, após conseguir fugir do nosso quintal.

A terceira vez, eu tinha 22 anos, quando a baby Lolli chegou com todo seu charme. Nome de batismo que dei para ela, Lollipop Ava Gardner (2007 - 2022). Lucas ganhou a Lolli de presente, e foi sem dúvida o presente mais extraordinário que eu já ganhei.

Polo me ensinou a lidar com o meu medo de doguinhos, mas foi com a Lolli que eu definitivamente venci esse medo. Ela não tinha pretensão nenhuma de ensinar ninguém a ser tutor ou tutora dela. Não foi adestrada, mas tinha um instinto de autocuidado muito encantador.

A primeira morada de Lolli foi no quintal, ela viu que se tentou construir uma casinha para ela, mas nunca se concluiu. Ela tinha uma cadeira, pote de comida e água. Conviveu com galos, galinhas, pato, jabuti e inúmeros gatos. Poliamorosa e pansexual, Lolli amava e odiava vários gates ao mesmo tempo e sem distinguir gênero.

Para mim ser tutora de doguinho não era algo tranquilo. Principalmente porque me sentia cobrada a ser de uma determinada forma, aquela coisa de ter uma imagem padrão, junto a minha baixa estima e disponibilidade de me cobrar.

No sentido afetivo éramos livres, falava com a Lolli, convivia com ela quando desejava e/ou quando ela me chamava/chorava nos sete anos que ela morou no quintal. Já nos sete anos que ela morou dentro de casa, a gente ficou muito mais em contato, ela inclusive aprendeu a abrir a porta do meu quarto para entrar sempre que quisesse.

Era desafiador manter a higiene de Lolli, assim como aconteceu de estar tão desgastada com o trabalho/vida que me passei e deixei ela eventualmente sem estar com as vacinas atualizadas. Lidava com a vergonha e a culpa, me condenando, não me considerava uma boa tutora.

Estava muito disposta a estar com Lolli e observar ela, mas isso tinha ciclos e momentos. A pessoa que efetivamente cuidava diariamente de Lolli era minha mãe, Anna Helena.

Foram 14 anos de convivência com a Lolli, durante doze deles só foi necessário sair com ela para ir na clínica após o horário comercial em um momento, uma vez que ela foi mordida por um escorpião.

A ideia era cruzar ela com outro doguinho, mas não tive como fazer isso acontecer. Assim como não tive condições de castrar ela, principalmente por não conseguir me preparar para pagar e priorizar os cuidados com ela.

Assim, aos 13 anos ela teve um intenso mal estar e precisou ser castrada. Mais ou menos um ano após esse mal estar, me assustei em perceber que Lolli estava se desequilibrando e caindo sozinha. Saí com ela a meia-noite do domingo, 17 de outubro de 2021, de Uber com ela no colo, jurando que ela estava morrendo e depois foi que entendi que ela estava dormindo.

Chegando na clínica a veterinária não economizou e encheu a lista de possíveis diagnósticos: metástase, definitivamente foi o que mais me assustou. Ela observou que Lolli tinha nódulos nas mamas, sopro no coração, que estava acima do peso e por aí vai.

A menção do sobrepeso também pesou. Em específico porque esta veterinária e algumas outras quiseram justificar os desequilíbrios de Lolli por conta do sobrepeso. Além dos gatilhos já provocados em qualquer menção de que pessoas e/ou pet estão acima do peso. E a explicação para o desequilibro de Lolli nem era essa, ao ter pouco tempo depois dificuldade de se levantar sozinha, e ser examinada por uma neuro, ela ficou sob suspeita de hérnia de disco, e com diagnóstico de disfunção cognitiva.

Lolli estava frequentando até 2020 uma mesma pet shop, próxima de onde moramos, a qual a socorreu em 2020 quando ela precisou ser cadastrada com urgência. Por mais que eu seja muito grata aos cuidados que foram dados a ela, na cirurgia, pós-cirurgia e nos seis anos, ou mais, que ela foi atendida lá para banho e tosa. Não me senti acolhida pela linha defendida para os cuidados com cães idosos, a partir da visão de que o melhor seria cuidar de forma paliativa. E também não senti que a clínica compreendia o que os tutores de Lolli estavam vivendo em meio a pandemia.

Compreendi inclusive que eu demorei para entender que havia na medicina veterinária, aqueles veterinários que defenderiam opções de tratamento paliativas, e aqueles que defenderiam outras opções, inclusive algumas vistas como mais arriscadas.

Senti também na pele o quanto é custoso fazer exames, comprar remédios, arcar com cirurgia, pós-operatório, internação, consultas, e quanto mais as fazia mais parecia que tinha para fazer, e transparecia o quanto uma pessoa desempregada ou sem recursos fica impotente.

Eu como pessoa branca privilegiada tive dificuldades, principalmente por estar desempregada, cogitei várias vezes em fazer rifa ou financiamento coletivo, e não o fiz por vergonha. Me endividei e usei desesperadamente parte do recurso que tinha guardado.

Só entendi que não tinha conseguido expor uma das vivências mais angustiantes da minha vida e pedir publicamente ajuda, apenas no terceiro e último mês, em terapia, quando o meu psicólogo me disse que era lógico que eu pedisse ajuda.

E foi um choque, principalmente porque uma coisa que eu estava também fazendo era estudar sobre a vergonha através da leitura dos livros de Brené Brown. Mal tive tempo de lidar com a impossibilidade de dar voz a essa minha vulnerabilidade, uma vez que duas semanas depois, no dia 01 de fevereiro de 2022, Lolli veio a falecer.

Fiquei com desejo de escrever e por isso ainda aqui escrevo. Fiquei com desejo também de falar mais sobre cães idosos, desafios dos tratamentos caninos, e reflexões sobre o que é tutoria canina, o que por enquanto segue perdido. Eu só descobri muita coisa vivendo, possivelmente eu aprendi mais sobre tutoria nesses três últimos e intensos meses de convivência com Lolli, do que tive condições de me propor a aprender antes.

Foi necessário lidar com o diagnóstico de que ela estava com tumor no pulmão para que eu me revelasse para mim mesma alguém que não conseguiria aceitar que era válida a opção de deixar ela com o tumor, e abraçar os cuidados paliativos. Não me resignei a eles, pode ter ajudado a abreviar a vida dela ou não. Tinha mais que motivos para não submeter ela a cirurgia, mas ao mesmo tempo só conseguia sentir que eu estaria abraçando a esperança se arcasse com a cirurgia.

O tumor acabou sendo uma de muitas questões, tinha a anemia e a disfunção cognitiva também. E tinha apesar de querer cuidar dela, também uma vontade de estabelecer um limite, até também de desistir. 

Emanei para o universo um pedido de que Lolli não partisse no final de 2021, e adoraria como falava para ela que a gente ainda tivesse muito para viver juntas. Mas eu também dizia para ela nos momentos mais difíceis que entenderia se ela precisasse partir, e eu perdi a conta de quantas vezes me despedi dela nesses últimos meses.

A partida dela foi extremamente sofrida, e ainda assim foi difícil receber a confirmação de que ela havia partido. Por mais que eu visse o sofrimento dela, ainda dei espaço para acreditar que ela se recuperaria, e assim a nossa última despedida ficou com cara de até já.

A ausência dela teve, tem e terá muitos sabores e o que vivemos me dá força.

Não me vejo retornando num futuro próximo para a fila da tutoria canina, mas seguirei celebrando o amor que recebemos e dedicamos aos doguinhos.

quinta-feira, janeiro 13, 2022

Na busca por entender o meu próprio valor

Sempre existiu uma blogueira em mim, mas deixei de acreditar nela porque não recebia reconhecimento de outras pessoas e deixava que isso abalasse o meu reconhecimento de mim mesma. É muito comum confundir a vulnerabilidade (sua ou de outra pessoa) com fraqueza, em meio ao domínio que a insegurança já teve sobre mim, me fiz acreditar que eu era fraca, incapaz e covarde.

Uma pessoa covarde escolheria aos 17 anos ir fazer terapia? O meu primeiro ciclo de terapia com uma psicóloga durou quatro anos, em todo ele o valor de estar fazendo terapia e lidando com quem eu era e como eu via as outras pessoas continua inegável para o meu amadurecimento. Foi um ciclo que não se concluiu como parte do meu processo de autoconhecimento (ao menos da minha parte não havia intenção de que houvesse uma conclusão) mas por necessidade da minha psicóloga precisou ser concluído. 

Processo de autoconhecimento, o que come e onde vive?

A opção de me autoconhecer me parece ainda menos como opcional hoje, aos 36 anos. Já faz dois anos que eu busquei iniciar o terceiro ciclo de terapia com uma/um psicóloga/psicólogo, e por mais que eu soubesse que além do acompanhamento de uma/um profissional da psicologia era importante fazer outras ações ou terapias, não sabia de fato o quanto poderia aprofundar o meu processo de autoconhecimento ao encontrar o trabalho de uma pesquisadora norte-americana que estuda sentimentos há mais de duas décadas (aquela que você possivelmente já me ouviu mencionar pelo Instagram), Brené Brown.

Pouco me importa se serei reduzida a uma fanática pela pesquisa de Brené Brown, pois tenho vida além da pesquisa dela e busco justamente que a pesquisa dela me ensine sobre a vida, um dia quem sabe aprenderei também sobre a Vida Plena. Além de que dentro do aprendizado que o contato com a pesquisa de Brené tem me causado está entender o meu valor independente da forma como eu tema que outras pessoas possam me ver, ler, julgar.

Ainda me sinto incapaz de traduzir o que é ler os livros de Brown, também por acreditar que foi uma das vivências mais particular e coletiva que já tive. Os li aceitando e compreendendo que voltaria a ler os mesmos, possivelmente várias vezes na vida. Mas vou tentar em meio a minha descrença na minha capacidade apresentar alguns dos efeitos do aprendizado da minha imersão na obra de Brown mesmo que superficialmente.

1. Compreender que o silêncio é o principal combustível da vergonha

O primeiro livro de Brené que li foi A coragem de Ser Imperfeito, fiquei embasbacada com a informação de que a principal ferramenta que poderíamos usar ao sentir vergonha era buscar dialogar sobre a situação que causou este sentimento com alguém que nos disponibilize empatia.

2. Lembrar de desenvolver a minha resiliência à vergonha

Não significa que não sentirei vergonha, mas que é possível reconhecer como a vergonha mexe comigo, prestando atenção nas sensações que ela provoca, para poder me trabalhar não só quebrando o silêncio sobre ela, como também buscando aprender sobre o que é vulnerabilidade, e sobre como construir minha resiliência a partir de empatia, coragem e compaixão.

3. Simpatia não é empatia

Algo que busco lembrar diariamente, não apenas para ficar mais atenta a quem está sendo empático, mas também para buscar ser mais empática e me libertar do mito de que preciso ser simpática para ser aceita.

Estou lendo o sexto livro de Brown, A Coragem para Liderar. Antes dele li Eu achava que isso só acontecia comigo, A Arte da Imperfeição e Mais Forte que Nunca. Perdi a conta de quantas vezes encontrei neles força para encarar as vergonhas que senti, para me libertar de medos, inseguranças e principalmente para hoje poder me reconhecer como alguém mais corajoso do que eu me  julgava ser ou ter capacidade para ser.

Também tomei a iniciativa de já iniciar a releitura de um deles em 2022, especificamente de A Arte da Imperfeição porque ele serviu para mim como um guia dos conceitos necessários para a Vida Plena e para aprofundar as conexões entre os livros e a pesquisa de Brené. Inclusive é o livro que a própria Brown recomenda como primeiro a ser lido entre os seus trabalhos. Tenho transcrito partes do livro que me tocam para um caderno e compartilhado também alguns trechos pelo meu perfil no Instragram @larislisboa.

4. É possível que tenhamos criado narrativas que nos limitam, assim como é sempre importante renovar a nossa compreensão sobre nós e es outres

5. Não preciso provar o que sou para ser o que sou

Tenho tido vontade de compartilhar muitos trechos de A Coragem para Liderar, e isso foi muito comum em todos os livros de Brené, mas para evitar quebrar o foco no conteúdo que tenho compartilhado a partir de A Arte da Imperfeição optei por vir aqui escrever e acabei fazendo esse preambulo todo a partir da vontade de extravasar um pouco sobre o que o trabalho dela me provoca, no momento ele tem me permitido ter fé em uma forma de liderança justa e saudável que não esteja atrelada em concentração de privilégios e poder.

"Um confronto é uma discussão, conversa ou reunião definida pelo compromisso de abraçar a vulnerabilidade, se manter curioso e generoso, persistir no processo de identificação e solução de problemas, dar uma pausa e voltar atrás quando necessário, ser destemido ao assumir nossas responsabilidades e, como ensina a psicóloga Harriet Lerner, ouvir com o mesmo entusiasmo com que desejamos ser ouvidos. Acima de tudo, quando alguém diz 'Vamos confrontar', recebemos a deixa de que devemos comparecer de coração e mentes abertos para servir ao trabalho e uns aos outros, não aos nossos egos." Trecho do livro A coragem para Liderar de Brené Brown

Para alguém como eu que se viu refém do medo de desagradar as outras pessoas em boa parte da vida, confronto sempre esteve como algo indesejado e desagradável. Apenas hoje e meio ao alinhamento das minha vivências com as leituras da pesquisa de Brown que consigo me permitir enxergar os confrontos como possíveis de serem vividos de forma saudável. 

A minha vida como profissional poderia ter sido outra se eu tivesse a possibilidade de abraçar a minha vulnerabilidade. E tenho consciência de que ela está sendo outra por hoje ter espaço para a minha vulnerabilidade. 

Fui estimulada a ser curiosa e generosa porque tive o privilégio de trabalhar com profissionais assim. E sigo renovando o meu compromisso com a curiosidade e generosidade. 

A identificação e solução de problemas, me foi incansavelmente apresentado em ambientes profissionais como ameaça, principalmente se você representa um setor que é visto como uma despesa, quando deveria ser reconhecido pelo investimento que provoca. 

Até podia ser convocada a aparecer em reuniões de coração e mente abertos, mas dificilmente senti que as pessoas nos cargos de chefia estavam nas reuniões assim. 

"Ter a certeza do nosso valor e do valor dos membros da equipe vai revolucionar a empresa e abrir caminhos que antes não existiam - em vez de uma corrida em que dez pessoas competem entre si, começamos a desenvolver uma corrida de revezamento coordenada na qual os membros da equipe passam o bastão uns para os outros, e não competem para fazer todo o percurso sozinhos. Quando todos entendem o próprio valor, não há mais luta, e passamos a nos dedicar aos nossos dons." Trecho do livro A coragem para Liderar de Brené Brown

Antes de começar a aprender sobre o autoconhecimento a partir da pesquisa e das palavras da Brené, teimava em colocar a minha referência de valor próprio nas mãos de qualquer pessoa. Não tenho palavras para agradecer pelo reconhecimento do que eu fazia e o aprendizado para buscar evitar atrelar o que eu sou, ao que as outras pessoas buscam ou não valorizar.

quinta-feira, janeiro 06, 2022

Breve reflexão sobre um dos ciclos da minha jornada "profissional"

No dia 06 de janeiro de 2021, encerrei um ciclo de oito anos e oito meses no qual estive como analista de audiovisual do Sesc Alagoas. 


Como uma pessoa que valoriza a contagem do tempo (talvez até demais) não poderia deixar de reconhecer que passou um ano. Ao mesmo tempo que não me privo de notar que daqui há quatro meses, vai completar uma década que comecei, através da oportunidade e privilégio de me tornar uma funcionária da coordenação de cultura do Sesc, a minha jornada “profissional” na produção cultural em audiovisual.


Coloco profissional entre aspas porque a minha jornada com a produção/direção audiovisual teve início em 2007, e quer ela seja ou não considerada como “profissional”, foi através dela, da pesquisa que me propus a fazer sobre o audiovisual alagoano, e da minha determinação em fazer tudo que foi oficina de audiovisual que pude, que tive como provar na seleção do Sesc que merecia ficar como segunda colocada para a vaga de analista de audiovisual.


Sou imensamente grata por ter aprendido a ser produtora cultural em audiovisual no Sesc Alagoas, como produtora de ações formativas e instrutora; curadora e produtora de exibições e mostras, mesmo carregando tanta insegurança e vergonha boa parte do tempo.


Me responsabilizo pela insegurança e vergonha, mas é tolice querer acreditar que era coisa da minha cabeça. É falta de coragem inclusive ver apenas a minha responsabilidade diante do que o trabalho me provocava. Porque é muito mais fácil acreditar que a minha insegurança e vergonha eram simplesmente geradas pela minha personalidade, do que encarar que elas são alimentadas pelas relações sociais e de trabalho, prioritariamente pelo dever de agradar, pela obrigação de adaptar-se incansavelmente, pela falta de diálogo e naturalização dos silenciamentos.


Dentro da prática de trabalhar com marcadores mais que nunca é preciso criar mensurações, atenção e estruturas para a saúde mental.


Ainda falando em silenciamento, a linguagem do audiovisual no Sesc Alagoas foi silenciada após a minha saída, e isso diz muito, mas não há muitos que queiram de fato ouvir, enxergar, cobrar e por aí vai.


No momento que me vi concluindo a minha atuação junto ao Sesc, compreendi que finalmente tinha chegado a fase da minha vida em que iria poder rever e refletir sobre tanta coisa que não tinha sido possível em meio a correria das demandas, metas e cobranças. Em meio também ao condicionamento que se aprende a perpetuar para evitar o desemprego.


365 dias já não seriam suficientes para processar tantas vivências, menos ainda em meio aos novos e velhos gatilhos dos tempos pandêmicos. 


Minha intuição me diz há muito tempo que eu preciso escrever, e estou buscando me permitir fazer mais o que ela me propõe. E assim, escrever esse texto não é um começo, nem será uma conclusão. 


Um dos muitos aprendizados que levo comigo é o de que o reconhecimento precisa começar por mim, o que me estimula a buscar coragem para revisitar e contar a minha história porque não há quem possa fazer isso por mim.