quinta-feira, março 31, 2022

Aniversário do Alagoar, como celebrar?

Ver o Alagoar caminhar para alcançar um ano de existência foi um momento emocionante, o qual nos propomos a celebrar com o lançamento da identidade visual desenvolvida pela Núcleo Zero no Rex Jazz Bar em Maceió-AL, junto a exibição de filmes e videoclipe, e discotecagem do Coletivo Popfuzz e de Luk Lisboa (fotos por Jul Sousa, veja aqui).

2016 - Entrevista com as coidealizadoras do Alagoar, Amanda Duarte e Larissa Lisboa por Rafhael Barbosa: Alagoar se consolida como ponto de convergência do audiovisual alagoano

Pensar e desejar fazer celebrações a cada ano parecia uma opção, mas ao mesmo tempo quando o aniversário do Alagoar voltava a se aproximar, a viabilidade se comprovava mais desafiadora do que eu antevia. Sonhei em voltar a exibir filmes, mas não voltei a fazer isso pelo Alagoar antes da pandemia de Covid-19.

Em 2020, a pandemia me ensinou a propor diálogos pelo Alagoar virtualmente, e porque não começar a fazer live para comemorar o aniversário do projeto, e seguir fazendo mais algumas, parte delas está disponível no IG do @alagoar

2020 - Alagoar comemora cinco anos e faz história por Larissa Lisboa na Mídia Caeté 

Graças ao edital Prêmio Elinaldo Barros da Lei Aldir Blanc, foi possível sonhar a voltar a fazer exibições de filmes pelo Alagoar, somado ao desejo de celebrar o centenário do audiovisual alagoano com um festival de filmes realizados por pessoas alagoanas ou residentes no estado.

Através do Festival Alagoanes foram exibidos 94 filmes, realizados 24 debates e seis oficinas, entre fevereiro e maio de 2021. O Alagoar completou o seu sexto ciclo em meio a programação do Alagoanes, e além desta vivência intensa como presente, também contou com o lançamento do podcast Fuxico de Cinema no dia 30 de julho de 2021 como comemoração de seus seis anos e seis meses.

2021 - Luz, câmera e vamos Alagoar por Maria Viviane de Melo Silva  

Em 2022, a comemoração voltou a ser simbólica como foi na maioria dos sete anos do Alagoar. Rolou desejo de propor alguma ação, assim como cobrança interna e pessoal, somado a possibilidade de aceitar o que foi e é possível fazer e viver.

E uma das possibilidade é a de estar aqui rememorando e compartilhando. Em especial para mim que vivo e penso o Alagoar diariamente, inúmeras são as oportunidades e formas de celebrar a existência e persistência deste projeto, que já fez e faz muito por mim, e que me ensinou e ensina a fazer mais por mim também.  

Como tradição acredito que vale muito seguir lembrando e agradecendo a parceria de Amanda Duarte, que é coidealizadora do Alagoar, a presença dela foi disparadora do amadurecimento do que era um blog "abandonado", em uma iniciativa que aflora com o tempo e tem inúmeros motivos para seguir somando.

Agradecimentos a todas as presenças e ausências.  

sábado, março 19, 2022

Desapegando de "Negativas"

Em 19 de novembro de 2020, estava eu mais uma vez me lamentando para mim mesma sobre não ter recebido do fotógrafo contratado as minhas fotografias de 15 anos. Um lamento que eu sabia que precisava ressignificar já há alguns anos, e que tinha sido reacendido quando eu reencontrei o tal fotógrafo num evento em 2015.

Minha festa de quinze anos foi feita de forma privilegiada, num restaurante, com vestido caríssimo - que minha tia me deu  e que eu usei apenas naquele dia, com filmagem e fotografia, as quais se tornaram ficção por jamais terem sido entregues a minha mãe que foi quem contratou o serviço.

Ainda no ano da festa, anos 2000, ele levou um positivo das fotografias (revelação em miniatura das fotos) para que escolhêssemos quais deveriam ser reveladas. Não lembro quantas vezes minha mãe ligou cobrando ele, mas por alguns anos ela manteve uma frequência nas cobranças e ele prometia entregar mas não cumpria.

O meu reencontro com o tal fotógrafo que "perdeu" a filmagem e os negativos da minha festa de 15 anos se deu, exatamente 15 anos após, foi uma surpresa e senti uma imensa vergonha em ainda precisar cobrá-lo, senti também, equivocadamente inclusive, como se eu ou minha mãe tivéssemos culpa. Não tinha porque ter vergonha nem culpa, mas eu levei um tempo para processar isso.

Entre 2015 e 2017 segui reencontrando o tal fotógrafo anualmente no mesmo evento, e ele foi capaz de me dizer que havia localizado um dos negativos, o que me deu falsas esperanças.

Cansada, e munida da inspiração de ter visto um documentário no qual a diretora havia reavisto após décadas os negativos do filme que ela havia gravado na adolescência, que haviam sido privados a ela pelo produtor do filme. Mandei uma mensagem desaforada para o tal fotógrafo, expressando o meu sofrimento pela primeira vez e emanando o desejo de transformar esta frustração em coisa boa (secretamente desejava que fosse inspiração para um filme ou coisa assim).

print do meu whatsapp

Havia esquecimento, não passava o tempo todo pensando na filmagem e nas imagens que não tinha recebido dos meus 15 anos. Mas havia gatilhos que me faziam lembrar, e havia a consciência de que o que me restava era não esquecer porque essa era uma forma de não apagar mais ainda aquela memória já esmaecida, assim como também fazia parte do meu processo de aprendizado e da minha busca por ressignificar a frustração.

Ressignificando negativas

Desejava acreditar que poderia fazer um filme sobre aquela frustração, mas não tinha muita fé que conseguiria fazer isso sem reaver qualquer fotografia ou material da minha festa de 15 anos porque estava presa num desejo de representação objetiva, numa necessidade de resgate.

Nas minhas férias em 2020, no meio da pandemia de Covid-19, ensaiei filmar a mim mesma, e também uma conversa com minha mãe sobre a minha festa de 15 anos, e empaquei. Contudo, naquele  novembro, além do lamento, também fui visitada pela compreensão de que qualquer negativo de filme fotográfico 35mm poderia representar os negativos das fotografias da minha festa de 15 anos.

Pode parecer algo óbvio e tolo, sim, negativos se relacionam com negativos, no entanto, para mim foi extraordinário. Já havia fotografado uma película de 35mm, quando ganhei uma de presente há muitos anos atrás, mas jamais havia fotografado negativos.

Apesar de ter me entusiasmado ainda procrastinei um pouco, e foi no impulso de romper com a procrastinação que no dia 31 de dezembro de 2020 fiz inúmeras fotografias contínuas que poderiam ter sido apenas um ensaio ou experimento, mas como eu sabia que corria o risco de procrastinar mais, preferi fazer e manter a construção de um filme de animação de stop motion a partir do que consegui produzir de improviso naquele momento.

Estava muito comprometida com a procrastinação, e acredito que ainda tendo a fazer isso na hora de construir os meus filmes. Acredito que após protelar mais um pouco, montei o primeiro e único corte de "Negativo" em março de 2021. 

Acredito que eu já havia terminado a montagem do filme quando cogitei que podia reunir aquelas mesmas fotografias que usei para animá-lo como um ensaio fotográfico que denominei "Negativas", composto por 12 fotografias, algo que me foi provocado ao encontrar uma convocatória para publicação de um ensaio fotográfico num fotolivro coletivo.

Acesse o ensaio "Negativas" aqui

Você sabe desapegar de negativas?

Eu sabia que eu sabia, mas que eu também não sabia, rs 

Meu ensaio "Nagativas" não foi selecionado, e foi doloroso para mim lidar com isso. Embora fosse capaz de entender que aquela negativa não deveria diminuir o valor do meu trabalho, hoje eu sei que é preciso mais do que entender.

A dor que eu senti veio da vergonha que eu embarquei por não encontrar o reconhecimento que eu procurei. E é natural sentir vergonha, e pode ser tranquilo sentir ela e processá-la. Mas além de ter processado apenas superficialmente aquela vergonha que eu senti, eu ainda estava muito presa a minha impostora e também refém da minha insegurança, por ter o mau hábito de ficar me comparando com as outras pessoas.

O que eu aprendi com o trabalho da Brené Brown (que talvez você já tenha me visto falar sobre aqui em outras postagens) foi que a principal ferramenta na busca por desenvolver a resiliência à vergonha é identificar alguém que me dê empatia e falar sobre a vergonha que eu senti. (Na medida que eu pude, pratiquei isso naquela época.)  

Aprendi, entre tantas outras coisas com o trabalho de Brown, a fortalecer o meu autoconhecimento, e a me libertar da necessidade de ser reconhecida, a combater a minha impostora, a ressignificar a prática da comparação como ferramenta de sobrevivência, e não como medida do que sou ou do valor que eu devo me dar, e a desconstruir narrativas pessoais que fortaleciam a minha insegurança.

Foi inspirada no que estava aprendendo com as leituras dos livros de Brown que em dezembro de 2021, escrevi sobre a vergonha que senti ao ver que o meu filme "Negativo" não havia sido selecionado na 12ª Mostra Sururu de Cinema Alagoano (Da escolha de não silenciar a vergonha). Fato que mais uma vez me impactou porque eu ainda estava medindo o valor das minhas criações a partir do reconhecimento externo.

No entanto, ao contrário do que fiz com "Negativas" que eu deixei guardado e esquecido, tenho buscado seguir escrevendo "Negativo" em mostras e festivais quando sinto vontade, por mais que ainda venha uma impostora me dizer que meu filme seguirá sendo invisibilizado.

E apesar da minha impostora me atrapalhar ainda quando eu encontro coragem de me colocar à mercê do reconhecimento externo, tenho me sentido mais disposta a reconhecer o meu valor, como também de falar, escrever e compartilhar o que sinto e crio, o que me fez vir escrever este texto e compartilhar o ensaio "Negativas" no Facebook e Instagram da La Refletida.

Receber negativas e não deixar elas me desanimarem, nem que me façam acreditar que o meu trabalho merece ser invisibilizado segue sendo o desafio. Em particular, como "Negativas" e "Negativo" são respostas minhas inspiradas numa vivência que me frustrou, preciso me lembrar de não somatizar as frustrações também.

Estou aprendendo a me lembrar que o principal reconhecimento é o meu, e assim conseguir ter coragem para lidar com os gatilhos que venham a sugerir que o meu trabalho é menor ou de que está inacabado, visto que não há como evitar que as pessoas vejam o que eu faço da forma delas, mas que ao mesmo tempo eu preciso discernir e não valorizar o que me machuca e desestimula. 

quinta-feira, março 10, 2022

Eu e eu mesma

 Difícil dimensionar o quanto eu já questionei e diminui a pessoa que sou.

Um dos melhores investimentos que fiz na vida foi ter curiosidade de saber como funcionava a terapia (em Gestalt) ainda na minha adolescência, ao 17 anos.

Estar em terapia por quatro anos, naquele primeiro momento, me incentivou a ter coragem de lidar com as angústias, de ver a vida por perspectivas diferentes da minha, me ajudou a lidar com profundas mudanças. Não via, nem vejo a minha relação com a terapia como um processo a ser concluído, principalmente porque o meu principal objetivo era e é estar em terapia.

A psicóloga que me proporcionou aquele primeiro ciclo terapêutico encerrou seu atendimento clínico, o que determinou a duração daquele momento.  

Não me desesperei ao me ver sem acompanhamento psicológico entre os meus 22 e 27 anos, desejava mergulhar em um novo processo de terapia e compreendi que o faria quando fosse possível.

E assim me vi novamente em terapia por cinco anos consecutivos, num segundo momento, era o meu lugar de respiro, meu incentivo para persistir buscando aquilo que me fazia bem, a possibilidade de reconhecer a mim mesma, de me lembrar sempre que possível da força que habitava em mim.

Em 2017, pela primeira vez, quem optou por dar um tempo na terapia fui eu, um tempo que sem querer durou quase três anos.

Em 2020, retornei a terapia antes da pandemia. E priorizar a terapia mais que nunca foi um aprendizado que veio com a pandemia, já são dois anos fazendo terapia on-line.

A comunicação é uma das prioridades na minha vida, a comunicação é ferramenta da terapia na minha vida, sou imensamente grata pelo acolhimento que recebi e recebo ao buscar desabafar, desabar, desaguar na terapia.

Sou uma pessoa que vive para pensar e pensa demais para viver. E nesse pensar demais, era muito natural me sabotar, me cobrar, não me dar nem espaço para cogitar me perdoar. Não sabia o quanto eu precisava me perdoar, me amar.

Sabia que trabalhava muitas questões dentro e fora da terapia, sentia que ao chegar nos trinta estava abraçando mais a maturidade, mas não fazia ideia que poderia me libertar de tanta coisa e ver eu mesma com mais acolhimento, até encontrar o trabalho de Brené Brown.

Ter reativado este espaço aqui, me permitir mais que nunca valorizar o que eu sinto, penso e tenho vontade de compartilhar. Ao invés de seguir presa no medo de ser julgada, de não ser reconhecida.

Os livros de Brené mexeram comigo, me devolveram um parte de mim que eu ajudei a enterrar, me provaram outras partes de mim que eu nem acreditava que existiam.

Ainda tenho dificuldades de definir quais os valores que me guiam, mas entre eles o que eu mais tenho buscado praticar é a empatia, e isso me possibilitou inclusive aprender a abrir mão de me agarrar nos meus julgamentos.

Entre tantas coisas que o encontro com os livros de Brené me deram e que eu faço questão de levar comigo está a curiosidade, a compreensão de que um dos melhores investimentos que tenho para mim e para a vida é de ser e estar curiosa sobre o que sinto.